Introdução
Puzzles de leitura ou textos desordenados
Consiste em ordenar os parágrafos de um texto ou as frases em desordem e pedir ao aluno que reencontre a ordem lógica. Desenvolve a capacidade de antecipação (1) e a capacidade de captar a estrutura de um texto.
Para encontrar o desenvolvimento lógico do texto, o aluno deve, de facto, antecipar, ou seja interrogar-se: "O que é que se pode passar antes e depois de tal frase ou de tal parágrafo?"(2), o que corresponde à compreensão da estrutura do texto (situação inicial - situação final - situação intermédia). "Onde começa a história?" - "Onde acaba?" - "O que se passa entre essas duas etapas?" - "O texto que acabei de construir tem um significado, uma ordem lógica?". Todas estas questões orientam a procura durante a organização do puzzle.
Além disso, exercita a capacidade de perceber que um texto se constrói segundo regras de articulação. Para encontrar a ordem lógica, deve apoiar-se na coerência semântica sublinhada pelos índices organizacionais(3): referentes(4) e conectores(5) de encadeamento (primeiro, e, depois …), conectores de ruptura (de repente, em breve, contudo …), assim como os referentes.
Para evitar que a organização se torne um acaso, deve ser seguida de uma justificação de respostas.
Descrição genérica
"A filha das Neves" é uma narrativa marcada pela evolução do tempo. A história começa com a apresentação de um longo desejo frustado de um casal que aguarda um filho pedido e negado por Deus, procurado no mundo da magia e arrastado numa tristeza profunda desde a juventude até à velhice (situação inicial). Desenvolve-se através de uma ideia que tem um resultado inesperado, e que faz os acontecimentos evoluírem com a rapidez de tempos felizes, dos tempos em que as coisas acontecem: a construção de uma menina de neve que ganha vida e cresce rapidamente, transformando-se numa bela mulher, desejada e pretendida que acaba por aceitar para marido, um mancebo muito rico e poderoso. (situação intermédia). Termina, finalmente, no dia da boda, derretida pelo sol (situação final). Há aqui vários ciclos de vida que se cruzam: a vida de um casal que envelhece na procura da concretização dos seus sonhos; a concepção de um ser pelo desejo e empenhamento paciente dos seus progenitores (modelá-la com toda a paciência); a evolução do crescimento inevitável (a menina… até se transformar numa bela mulher). Todos estes ciclos estão, contudo, subordinados a um ciclo superior, o ciclo da natureza, que surge aqui paradoxalmente apresentado pela Primavera, habitual símbolo de renascimento, que acaba por ser o factor de aniquilamento da filha das neves, derretida pelo calor do sol, também um elemento cujo valor simbólico é transvertido, surgindo como agente de morte.
A análise do texto confirma esta evolução lógica. São frequentes os índices do tempo, explícitos e implícitos ao longo dos sete parágrafos que o formam. São conectores de tempo "Há muitos anos atrás…, todos os dias, Um dia de Inverno, logo, então, a partir daquele dia, entretanto, um dia, finalmente".
Os referentes são igualmente úteis na reconstrução do texto, através das sucessivas formas que o autor usa para nomear sucessivamente as personagens são referenciadas como "Um casal", "os dois", "o casal", "eles", "os pais"; "a boneca", "a filha das neves", "a menina", "a sua beleza". A organização dos parágrafos torna-se possível através da identificação desses mesmos índices e são eles que devem ser usados durante a justificação, que os ajudam e devem referir durante o controlo da actividade.
(1) "Compreender um texto, é também antecipar, poder partir de hipóteses sobre
o que ainda não foi lido. Ler é construir o sentido a partir das informações
extraídas do texto, mas também a partir de hipóteses elaboradas durante a
própria leitura.
Os alunos têm, por vezes, a tendência de ler palavra a palavra sem antecipar
a continuação do texto; ora a antecipação permite uma leitura mais económica na
medida em que o leitor imagina já uma parte do que vem a seguir, graças às suas
competências linguísticas e aos seus conhecimentos. O leitor que antecipa não
pára em cada palavra ou frase: o seu pensamento precede a sua visão; é assim
que conquista o sentido do texto em vez de seguir o seu desenvolvimento monótono."
(Bentolila, A., Chevalier, B., Falcoz-Vigne, D. (1994) La Lécture, apprentissage,
évaluation, perfectionnement, Nathan, Paris. p. 116)
(2) "As previsões sobre os textos narrativos: 1) previsões dos acontecimentos
baseados: a) nas características das personagens; b) na motivação das personagens;
nas características da situação; d) nos índices presentes no texto: -
nas ilustrações, - no título. 2) previsões a partir da estrutura e baseadas:
a) no conhecimento dos géneros literários; nos conhecimentos relativos à gramática
da narrativa. (Giasson, Jocelyne, (1993) A compreensão na leitura, Edições ASA,
Lisboa. p. 181)
(3) Os processos de integração têm como função efectuar relações entre as proposições
ou entre as frases. O autor utiliza, habitualmente, instrumentos como repetições,
pronomes, conectores, etc., para estabelecer ligação entre as frases. São estas
ligações que asseguram, pelo menos em parte, a coesão do texto. (Giasson, Jocelyne,
p. 81)
(4) "Falamos de referentes ou de anáfora quando uma palavra (ou uma expressão) é
utilizada para substituir outra". (Ciasson, 82) Incluir quadro pag. 84. Como?
(5) Conectores são palavras que ligam dois factos entre si: podem ser utilizados
para unirem duas proposições ou duas frases.
Diversos autores apresentaram classificações de conectores ou de marcadores de
relação. Agrupamos em seguida os principais conectores, a partir de Irwin (1986)
e Blain (1988): conjunção: e, também, … - disjunção: ou… - exclusão: excepto,
com excepção de… - tempo: antes, logo que,… - lugar: diante de, por cima de… -
causa: porque, por causa de… - contraste: contrariamente a… - oposição: apesar
de; embora… - concessão: se bem que… - consequência: de maneira a, a tal ponto…
- fim: para, a fim de … - condição: se, a menos que… - modo: como…
Os conectores podem ser explícitos ou implícitos, como o demonstram as frases
seguintes: O João tem dores de barriga porque comeu muitas maçãs verdes.
(conector explícito). O João tem dores de barriga. Comeu muitas maçãs verdes.
(Conector implícito).
Os alunos têm mais dificuldades em compreender os conectores implícitos do
que os explícitos.
(…) Devemos lembrar que os conectores de tempo e de causa são os conectores
mais frequentemente implícitos nos textos. (Giasson, Jocelyne, p. 88 e sgt.)
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