11 de junho de 2015: ‘D.Quixote’ com 23.000 palavras diferentes

«D. Quixote revela-nos cerca de 23.000 palavras diferentes. Hoje, um cidadão comum utiliza cerca de 5000»

“Ínclitas raças ubérrimas”, escreve Rúben Darío na abertura o poema “Salutación del optimista”. Miguel Sosa era criança , quando leu este primeiro verso . A curiosidade levou-o então a consultar o dicionário, procurando o significado de “ínclitas” , bem como de “ubérrimas”. Desde esse momento, o dicionário tornou-se imprescindível.
A paixão pelas palavras converteu-se no título ‘El pequeño libro de las 500 palabras para parecer más culto’, “um pequeno passo a favor da leitura e um grande passo contra a estultícia”, citando o autor. 500 palavras ilustradas com citações literárias de mais de 200 autores e 12 prémios Nobel, 500 vocábulos que conhecia e reuniu a partir das palavras que, cada manhá, enviava ao grupo de amigos através do ‘whatsapp’ . […]
A sua palavra preferida é “vagido”, choro de recém-nascido, mas também gosta de “evanescente” enquanto característica do ser humano. […]
“Estamos a perder a curiosidade. No presente, quando utilizo uma palavra pouco comum, raramente me perguntam o seu significado ou, se o fazem, dizem-me: ‘que pedante! A tua ignorância é o meu pedantismo?” – pergunta Miguel Sosa, que acredita ser a palavra anterior ao pensamento e que “a distância que vai da mente à boca é a que nos impede de chorar, quando escrevemos um texto dramático”.
Em ‘D. Quixote’, Cervantes utilizou cerca de 23.000 palavras diferentes. Hoje, o cidadão comum utiliza 5000. “É muito difícil encontrarmos o termo ‘uxoricida’ na comunicação social e, infelizmente, mais de 50 vezes por ano, isso é notícia – trata-se de um homem que assassina a mulher. Não utilizar a palavra, empobrece-nos. Ao reduzirmos o vocabulário, empobrecemos o pensamento, o que nos torna menos críticos” – afirma o autor com alguma inquietação.[…]
Sobre as redes sociais, é bem claro: “há erros ortográficos pela internet […], mas quem descura a linguagem é o utilizador, não a plataforma”. Não acredita que a limitação de texto no Twitter seja a causa “a economia de linguagem é uma das belezas da língua”».[…]
Artigo de ‘El Mundo’, 11/6/2015 (adaptado e com supressões)
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