16.º ENAPP – Sessão de encerramento

Os trabalhos do 16.º Encontro Nacional da APP, que teve lugar na Universidade de Aveiro, nos dias 3, 4 e 5 de julho, contou, na sessão de encerramento, com a presença das professoras Madalena Teixeira, da Comissão Científica, e Rosa Faneca, da Comissão Organizadora, por parte da UA. Depois de dois dias intensos de trabalhos e comunicações, com três conferências, dois painéis, cinco oficinas, uma mesa-redonda e 24 comunicações – que procuraram responder, com elevada qualidade, atualidade e rigor, às principais preocupações dos professores, tanto no âmbito da leitura e da educação literária como da oralidade e da articulação entre estes domínios, e que vão ser a base da edição de 2026 da revista Palavras –, Vitória de Sousa e João Pedro Aido, da Associação de Professores de Português, apresentaram uma síntese dos trabalhos realizados, que partilhamos a seguir.

O que podemos fazer na escola, o que fazer na sala de aula para que os nossos alunos aprendam a falar e a ouvir premeditadamente, a ler melhor e a saber apreciar a leitura e a amar os livros, e se possível ir mais longe, dar-lhes ferramentas para que aprendam a ler o mundo?

Se estas eram as preocupações que, enquanto professores conscientes e profissionais, aqui vos trouxeram, acreditamos que vos foram disponibilizadas condições de reflexão, sugestões de trabalho, ideias criativas e exequíveis para a sala de aula baseadas em sólidos fundamentos teóricos – e outros tantos exemplos práticos, alguns dos quais certamente desenvolvidos nas oficinas desta tarde.

Uma visão global das diferentes intervenções que nos foram disponibilizadas permite-nos dizer que foram privilegiadas diferentes áreas. Assim destacamos algumas intervenções focadas na divulgação de estratégias ativas e tecnologias educativas aplicadas à promoção da leitura e da oralidade.

 

  1. A partir da necessidade de se compreender porque os jovens leem cada vez menos e revelam, cada vez mais, uma reduzida capacidade de compreender, de amar e de procurar a leitura como fruição ao longo da escolaridade, apresentaram-se propostas baseadas na multimodalidade, utilizando diferentes meios de comunicação, capitalizando-se a sedução visual dos videojogos como outra forma de materialização da literatura. A utilização de recursos educativos digitais permite inclusive a sua aplicação na interpretação literária, reconhecendo-se que a mudança necessária depende da mudança do foco do eixo do ensinar para o de aprender, valorizando-se a presença do professor como leitor e mediador da leitura, partilhando a atitude de leitor fluente, se possível, compulsivo.

 

  1. Mas afinal o que fazer para se formar um leitor fluente, aquele leitor que se apropria do texto que lê, ao ponto de o devolver oralmente de forma pessoal através de uma leitura expressiva? E quando se alcança esse objetivo? Em que nível de escolaridade? Que estratégias e que textos? Uma animada oficina presencial deu-nos pistas para trabalhar e avaliar a fluência leitora e a leitura expressiva; trabalhar o texto, identificar dificuldades, refletir sobre as causas das mesmas, criar e aplicar estratégias de descoberta, de remediação e aperfeiçoamento para adquirir a fluência de leitura, caminho para a compreensão leitura ao longo da vida.

 

  1. Como alternativa ao modelo de exploração frequente nos manuais escolares, leitura e exploração do texto, apreciámos a aplicação de modelo de rotação por estações em que os alunos desenvolvem tarefas distintas em torno de um mesmo tema em trabalho colaborativo e autónomo.

 

  1. E como ensinar e avaliar a oralidade, dia a dia, aula a aula? Uma estratégia possível foi-nos exemplificada através da explicitação de uma rotina diária em que a oralização é prática consciente, em contexto de avaliação, de múltiplas dimensões ensináveis, para lá do próprio texto.

 

  1. A relação entre o texto escrito, nomeadamente o texto literário, e a oralidade ficou bem explícita através de diversos percursos pedagógicos. A partir de um texto oral, a gravação de uma homilia, e de uma questão de partida apresentada aos alunos, podemos observar como articular oralidade, gramática e texto literário, aplicando uma estratégia em que o foco é a mobilização do aluno, capacitando-o para o exercício da análise, levando-o a observar, comparar, refletir e concluir sobre o que distingue uma homília de um sermão.

 

  1. Esta vertente de articulação entre o texto literário e a mobilização de conhecimento sobre a língua foi ainda exemplificada mostrando como a morfologia se pode tornar uma ferramenta ao serviço da compreensão leitora, levando-nos a considerar as múltiplas possibilidades de integrar gramática e leitura profunda – ao serviço da compreensão do texto.

 

  1. Tivemos ainda um olhar profundo sobre aspetos de transcendência textual, aproximando temas, estilos, forma e conteúdo entre diferentes autores, distantes no espaço e no tempo, através da leitura atenta de excertos exemplares, uma rica recolha disponibilizada para a abordagem nas aulas em que se privilegie a oralização como meio de destaque de significados – e a escrita como apropriação da interpretação do texto por parte dos alunos. Saramago esteve connosco, desde o início do nosso encontro, quando o apreciámos à luz de António Vieira e, ainda, quando nos foi apresentada, numa perspetiva de  intertextualidade, a abordagem da alusão e da paráfrase na obra O Ano da Morte de Ricardo Reis, comparando textos que aproximam Camões, Cesário Verde e Fernando Pessoa da obra do nosso prémio Nobel.

 

  1. O cânone literário foi também o centro de uma reflexão que mostrou que a escolha de livros para efeitos pedagógicos pressupõe, antes de mais, qualquer que seja a ‘lista escolhida’, que vão ter de ser reunidas respostas para responder às problemáticas das comunidades – e às dificuldades dos alunos, em contextos mais difíceis por as turmas serem muito mais heterogéneas com um número crescente de alunos estrangeiros.

 

  1. Em termos de identidade, uma resposta robusta, que pressupõe uma ligação e relação entre literatura, cultura e arte(s), tanto mais que a relação é o padrão mínimo de compreensão (Gregory Bateson dixit), uma resposta robusta possível pode ser dada pelos roteiros de relações interartes, pensando nas questões em rede – uma rede também interna às escolas e às respostas de formação que podemos dar a esse nível, se tivermos tempo para pensar…

 

  1. Um exemplo forte que pode ser feito em termos de apropriação pessoal e crítica dos textos mais longos e difíceis por parte dos alunos, em termos de roteiros interartes, com o desenvolvimento das competências complexas de leitura e dando aos alunos a confiança que possa contrariar uma descrença ou «desânimo aprendido», esse exemplo forte pode ser dado pela dramaturgia dos textos literários, pelas oficinas de escrita, pela reinvenção dos textos clássicos, pelos ambientes ricos em leituras, debates e tertúlias, pela experiência de júbilo ao fazer teatro e pela necessidade de reforçar o tempo de leitura autónoma e por prazer que os alunos realizam.

 

Aveiro, 4 de julho de 2025

Vitória e Sousa & João Pedro Aido