“Grande contadeira de histórias era Nha Rosa Calita, […] a quem os rapazes trocistas chamavam Camões, por lhe faltar um olho, em virtude de pau-de-finado mal curado. E que lábia ela tinha! Era um gosto ouvir-lhe referir aqueles casos todos, contos de meninos presos, a engordar, dentro de caixas grandes, por velhas feiticeiras, pastorinhos que se casavam com a filha do rei, rapazotinhos sabidos que tinham enganado aquele-homem-pelo-sinal-da-cruz, e as demonarias das feiticeiras que iam ao Espongeiro tomar ordens no seu chefe, um diabo trocista, de cara descarada, e depois saíam, transformadas em bichos, a agoirentar a vida da criatura.
– História, história!
– Fartura do céu, ámen!
– Era uma vez uma princesa que andava a correr mundo à procura de Passo-Amor, seu noivo, mas para o alcançar tinha de furar a sola a sete sapatos de ferro:
Acorda, Passo-Amor,
há mil léguas em procura de ti… “
Baltasar Lopes, Chiquinho