«Os Lusíadas têm uma arquitetura majestosa, mas, surpreendentemente, Camões ecoou debates científicos da sua época. E um historiador de ciência como eu, quando lê a obra, deteta aspetos que reconheço como ecos de debates da cultura portuguesa. Essencialmente, é o debate sobre o valor da experiência que os marinheiros traziam comparado com o valor de estudar as grandes obras clássicas e como estas duas fontes de saber se deveriam relacionar. O que Camões diz é um pouco mais subtil e por isso espero corrigir [no simpósio Hispanic Society Museum and Library: Camões 500th anniversary celebrated in New York] algumas afirmações que se fazem.»
Henrique Leitão (2024). Camões não ficou agarrado ao seu tempo. O que ele diz ainda ecoa. Expresso em linha em 3 de outubro de 2024.
Nessa entrevista, o historiador de Ciência e Prémio Pessoa refere ainda que «Habitualmente diz-se que com as descobertas dos novos mundos houve uma rejeição da cultura clássica antiga, e isto não é totalmente verdade. Houve de facto uma crítica do saber antigo, mas a cultura clássica nunca foi rejeitada. Por isso Camões fala no “longo estudo”. Os Lusíadas estão inscritos numa tradição clássica, mas a cultura portuguesa conseguiu, ao mesmo tempo, valorizar a experiência dos factos novos, mas sem rejeitar completamente o saber antigo. Camões alude a isso, mas rejeita o saber muito intelectual sobre o mundo. Este é afastado, fica de fora e não é bem-visto. Há ali um ligeiro traço anti-intelectual.»
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