«A Marina Garcés [filósofa catalã] defende que pensemos em nós como «próximos de estranhos» num mundo em que o algoritmo reforça os nossos relacionamentos com aqueles que pensam como nós.
Os medos contemporâneos levam-nos a recolher-nos em mundos interiores, quer sejam domésticos quer baseados em identidades muito claras, de pessoas que são como nós, que pensam como nós, que se movem como nós. Isso torna essa ideia de deixar chegar ao estranho, de descobrir o estranho de nós mesmos, muito mais intransitável. O que, para mim, é a aventura da amizade.
Estamos a criar guetos de amizade?
Já não criamos comunidades de amigos, mas bolhas de iguais. Eu pergunto-me até que ponto confundimos a necessidade de segurança com o desejo de amizade. Os amigos podem dar-nos apoio ou acompanhar-nos porque são práticas que vemos a desintegrar-se noutros âmbitos do social, do trabalho ou da família. Mas quando a amizade é vista como terapia, essa ideia de «os meus amigos são a minha tábua de salvação, há uma aposta numa redução da aventura da amizade em si mesma. O propósito da amizade não é anestesiar-nos dos nossos medos, mas sermos capazes de os perder juntos.»
Marina Garcés (2025). Marina Garcés, filósofa: “Para gozar de la amistad hay que perder el miedo a la soledad”. El País em linha, 16 de fevereiro de 2025. [Trad. de João Pedro Aido]
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