Citação da semana – 25.abr.25

Citação da semana – Jason Stanley

«Acha mesmo que se pode falar em fascismo nos EUA? Num país como o meu, onde mesmo a uma ditadura de base católica e nacionalista que durou 48 anos muita gente hesita em aplicar esse qualificativo, parece estranho vê-lo aplicado aos EUA, onde os cidadãos podem exprimir as suas opiniões políticas e não existem presos políticos.

A extraordinária dimensão da população prisional, a maior do mundo, a condenação de gente que participou em manifestações como as do Black Lives Matter, para não falar do que está agora a acontecer com estudantes que participaram em manifestações pró-Palestina, sugerem outra coisa.

Na sua obra sobre fascismo, o sociólogo Michael Mann definiu apenas alguns regimes como fascistas. Entre eles a Itália e a Alemanha dos anos 30, obviamente, mas também alguns países do leste da Europa, e talvez Espanha.

Não temos de adotar um conceito puramente europeu de fascismo. W. E. B. Du Bois já falava de racismo nos Estados Unidos nos anos 30. Aliás, ele via as atrocidades do fascismo europeu num contexto que remonta às práticas coloniais de subjugação violenta. O que Hitler fez essencialmente já tinha sido feito aos povos colonizados a pretexto — como no fascismo — de lhes levar a civilização. E tal como nos povos atacados pelo fascismo europeu, as vítimas do colonialismo eram vistas unicamente como mão de obra a explorar.

Mas falando do fascismo como sistema político, acha mesmo que existe o risco de no futuro acontecer nos EUA como na Rússia e se começarem a prender a oposição — digamos, senadores democratas ou ativistas de outros tipos?

É ingénuo pensar que não pode acontecer. Conhece aquele famoso poema que diz “primeiro vieram buscar os comunistas e como eu não era comunista…”. Aqui também estamos a começar gradualmente. Primeiro deportam-se estrangeiros, depois atacam-se os nossos próprios cidadãos. Se os alunos estrangeiros de repente deixam de se poder expressar, que garantia temos de que a seguir não seremos nós?»

 

Jason Stanley (2025). “Não quero que os meus filhos vivam num país com um regime fascista”. Expresso em linha, 24 de abril de 2025.

 

 

No final de março, Jason Stanley, especialista em filosofia da linguagem e autor de vários livros sobre fascismo e temas adjacentes, como a propaganda, anunciou que ia deixar a Universidade de Yale, onde é professor desde 2013, e mudar-se para a Munk School na Universidade de Toronto, em resposta a evoluções preocupantes nos EUA, no meio académico e não só.

No recentemente publicado ensaio Apagar a História (ed. Vogais), o filósofo norte-americano expõe o verdadeiro perigo dos ataques da direita autoritária à educação, identifica as suas principais táticas e financiadores, e traça as suas raízes intelectuais. Explica, também, como as escolas e universidades das sociedades democráticas estão mal preparadas para se defenderem do ataque fascista em curso e defende que nos encontramos, uma vez mais, a nível global, «sob a ameaça de um movimento fascista em ascensão. Não só nos Estados Unidos a democracia está sob ataque de um movimento autoritário, que encontrou terreno fértil entre os políticos e eleitores conservadores do país, como movimentos semelhantes se multiplicam em todo o mundo. Para compreender a forma e os riscos deste ataque, temos de recuar e extrair lições do passado.» (da sinopse)

 

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