Citação da semana – 26.set.25

Citação da semana – Marco Neves

«O que mais o fascina nas línguas?

Perceber que cada palavra tem uma história. Por exemplo, o ‘azul’, que é a minha palavra preferida, vem do persa, por causa das rotas da seda, depois passou pelo árabe, chegou ao latim e finalmente ao português. Outra palavra interessante é ‘jaguar’, que vem de uma língua sul-americana, o tupi, e que usamos em Portugal, enquanto os brasileiros, curiosamente, usam uma palavra latina (‘onça’) para se referirem ao mesmo animal. As palavras revelam muito da história dos povos e dos seus intercâmbios, e isso é fascinante, em todas as línguas. No português, em particular, fascina-me o facto de ser um arquipélago, já que nenhum dos países que fala português faz fronteira com o outro. Isso não acontece noutras línguas e cria uma dinâmica muito própria.

Em que sentido?

O Brasil tem uma dimensão esmagadora, e isso alimenta algum receio e narrativas de superioridade no que diz respeito à língua. “Nós é que sabemos, porque somos 200 milhões”, pensam os brasileiros. “Nós é que sabemos, porque nós é que a inventámos”, dizem os portugueses. Mas, em poucas décadas, Angola e Moçambique, juntos, terão mais população do que o Brasil, o que significa que o continente onde o português vai ser mais falado será África e não a América do Sul. O centro de gravidade do português vai mudar.»

 

Marco Neves (2025). “Estamos a chegar a um ponto em que a escrita parece toda igual. Antes da IA os estudantes podiam dar erros, mas escreviam com mais alma”. Expresso em linha, 18 de setembro de 2025.

 

 

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