Citação da semana – 28.jun.24

Citação da semana – Emília Amor

«A D.L.M. [Didática da Língua Materna] constitui-se, assim, como território de fronteiras algo difusas e de conflitualidade latente onde o professor, mais próximo do «expert» – o prático ou o «curioso» – do que do especialista, está condenado a um trabalho de quase «bricolage», sempre no gume da navalha. E se a essa condição precária alguma produção didática vai obviando, tem de se reconhecer com Dominique Bucheton que tal acontece quase sempre de forma fragmentária, sem grande preocupação de enquadramento teórico e de unificação de perspetivas.

Consequentemente, pode afirmar-se que o professor está tão apoiado para conceber e realizar com sucesso uma aula ou uma curta sequência didática quão só e desamparado, no longo prazo, para desencadear a variação, dirigi-la de modo integrado e ascendente e controlá-la com idêntico sucesso num percurso de ensino e aprendizagem de vários anos.

A complexidade e a abrangência de tal empreendimento exigem uma verdadeira engenharia didática cujas bases são, no nosso contexto, ainda uma miragem. E que não se deve confundir com algumas pseudossoluções, assentes em verdadeiros sistemas de crenças pedagógicas (por exemplo, a dominante científica, a naturalista, a pragmático-cultural, a tecnológica, etc.).

Enquanto tais sistemas não assentarem numa formação alargada, consistente e continuada e a investigação não for concebida como uma vertente essencial da didática associada a essa formação, a situação descrita não se alterará significativamente. Tal obrigará, no plano institucional, a inverter a tendência para confinar a investigação ao campo e à lógica académicos ou para sobrepor a lógica política às exigências (de método e até de tempo) de uma abordagem científica dos problemas. No plano local e no individual impõe-se também que o professor, se possível, em grupo, num entendimento alargado das suas funções e papéis, exerça alguma reflexão sobre as suas práticas e respetivos objetos, num distanciamento crítico que é condição do seu próprio aperfeiçoamento. Essa iniciação à atitude investigativa pode e deve fazer-se no quotidiano e prepara-o objetiva e subjetivamente para dialogar noutras instâncias, em projetos de investigação de outro fôlego.» [itálico nosso]

 

Amor, Emília (2022). Didática do Português. Sinais de um percurso de vida (pp. 94-95). Fundação Manuel Leão.

 

 

Mais informações aqui, aqui e aqui.

 

Fonte da imagem aqui.