Citação da semana – 3.out.25

Citação da semana – Ismael Cortés

«Qual o primeiro exemplo de anticiganismo que lhe vem à cabeça?
Um caso que vivi na primeira pessoa. Houve um conflito entre uma pessoa cigana e uma pessoa paya [não-cigana] de uma aldeia da Andaluzia [em 2022]. A pessoa paya morreu. Um grupo foi ao bairro cigano incendiar as casas. As pessoas tiveram de fugir. Durante mais de um ano, a família não conseguiu regressar. As instituições não fizeram valer o Estado de direito. Num Estado de direito, a culpa é individualizada — a pessoa é julgada e, se for considerada culpada, cumpre a pena correspondente. Aplicaram a lógica herdada de outros tempos — a punição colectiva.

Tem encontrado exemplos de anticiganismo em Portugal?
Acabo de encontrar em Darque [Viana do Castelo] pessoas ciganas a viver em situações de infra-habitação. Nos périplos que fiz nesta e noutras visitas a Portugal, não vi pessoas da sociedade maioritária a viver nessas condições. Mais uma vez, gera-se um estado de excepcionalidade. Normaliza-se para a comunidade cigana o que não é normal para o resto da população.

(…)

A democracia não trouxe a mudança necessária?
Hoje já não nos prendem por, a qualquer momento, não conseguirmos provar que tudo o que transportamos é nosso. Esse nível de violência já não existe. Mas existem outras formas de violência.
Nos tempos da ditadura, o fosso entre a comunidade cigana e o resto da sociedade não era muito grande. A sociedade quase toda vivia no analfabetismo, na pobreza. Com a democracia, uma grande parte da sociedade espanhola progrediu porque passou a gozar de certos direitos. A comunidade cigana continuou numa situação de pobreza e exclusão, principalmente devido às políticas de segregação.
O gueto tem um ritmo e o resto da sociedade tem outro no domínio educativo, formativo, laboral, de participação democrática, de participação cultural. O fosso entre a população cigana e a sociedade maioritária foi alargando.»

 

Ismael Cortés (2025). História cigana: «O objectivo do reconhecimento tem de ser a reconciliação». Público em linha, 15 de agosto de 2025.

 

 

 

Entrevista e fonte da imagem aqui.