«E há alguma diferença entre fotografar pessoas ou os outros animais?
Ao princípio pensei que poderia haver diferenças, mas trabalhando percebi que não há diferença absolutamente nenhuma. Para fotografar um leão, uma formiga, uma baleia, você tem de aceitar o animal, tem de tentar compreender a dignidade desse animal, a sua personalidade, e respeitar o seu território, tal como acontece ao fotografar as pessoas. O grande problema da nossa espécie é que vivemos muito pouco; no máximo, cem anos. É um simples instante em relação à vida da Terra.
E os animais percebem?
Absolutamente. Descobri isso logo na primeira reportagem que fiz, nas ilhas Galápagos. Fui fotografar uma tartaruga-gigante. Ela não anda muito rápido, mas se não pára não consigo fotografar o personagem. Ora, ela andava, me via, se escondia, etc. Passou uma, duas horas, e eu não conseguia fotografar. Estava tão cansado que me ajoelhei e me sentei nos calcanhares. Então ela parou e começou a me olhar. Coincidentemente, eu estava à altura dos olhos dela, e vejo que ela não está com mais medo. Então me deitei, peguei na câmara e fui andando com os cotovelos, arrastando-me até ela, sentando-me também, parando… e a certa altura ela estava à minha frente, parada. E descobri que a curiosidade dela em relação a mim era a mesma que a minha em relação a ela. Ela compreendeu que eu respeitava o território dela, e eu aproveitei e fiz imensas fotografias.»
Sebastião Salgado (2015). Sebastião Salgado (1944-2025): “O problema da nossa espécie é que vivemos muito pouco; no máximo, cem anos. Acabámos de chegar ao planeta”. Expresso em linha, 23 de maio de 2025 [replicando uma entrevista fascinante inicialmente publicada no dia 28 de março de 2015].
Artigo e fonte da imagem aqui.
Imagem publicada neste trabalho do semanário Expresso intitulado «No coração da Amazónia de Sebastião Salgado regressamos ao paraíso», que reproduzimos com a devida vénia:
