Citação da semana – 6.jun.25

Citação da semana – Eduardo Gageiro

«Célebres ficaram também os seus retratos às figuras ilustres de uma época. Amália, Eusébio, José Régio, Sophia de Mello Breyner, Maria João Pires, marechal Spínola, Ramalho Eanes, Gina Lollobrigida, Orson Welles, entre tantos outros. Dentre todas, qual a figura que mais o surpreendeu pela negativa?

O antigo Presidente da República, Cavaco Silva. Na altura, ele era primeiro-ministro. É uma pessoa fria. Foi preciso retratá-lo para uma capa que ilustrasse uma entrevista feita por Joaquim Letria. Eu falo com os assessores, escolho uma carpete que estava pendurada. Ele sai da entrevista, muito tenso. Eu começo a falar com ele, a contar-lhe histórias para ver se ele se descontraía. E digo-lhe: “Não sei se o senhor primeiro-ministro conhece a história detrás da melhor fotografia do Churchill, feita por um grande fotógrafo, o Yousuf Karsh. Churchill estava a posar com um charuto sempre com a pose igual. E ele chegou ao pé dele, disse ‘com licença’ tirou-lhe subitamente o charuto da mão e fotografa-o de seguida. E capta-lhe uma expressão fantástica. E é a grande fotografia do Churchill, para mim a melhor de todas. Contei isto a Cavaco Silva, que me respondeu: ‘Eu não sou o Churchill, não fumo charuto e quero ir almoçar’.” Acabou a sessão!

Foi o primeiro fotógrafo português a vencer um dos prémios do World Press Photo, em 1975, com um retrato do marechal Spínola. Esse foi o seu prémio mais importante?

Sim. Porque a partir dessa altura aqueles amigos, entre aspas, que diziam que eu só fotografava meninos ranhosos, não tiveram mais argumentos para dizer mais coisas. 

Uma coisa são as insígnias e os prémios outra é o pão, o dinheiro. Foi sempre reconhecido e remunerado pelo seu trabalho como esperava?

Não. Nunca. A minha sorte é que na altura de O Século Ilustrado colaborava com [a brasileira] Manchete, com a Associated Press, com uma revista italiana chamada Época, cheguei a publicar fotografias na Paris Match e estive na revista Sábado. Pela primeira vez na vida ganhei dinheiro que se via. Ganhava 300 contos em 1980, era o editor fotográfico. Foi graças a esse dinheiro que consegui fazer uma casa aqui nos arredores. Mas depois desses anos e de me reformar fui à caixa de reforma dos jornalistas e vi que ninguém tinha pago nada à Caixa [em meu nome]. E hoje tenho uma reforma de 420 euros.

Como é que vive?
Vivo vendendo fotografias e livros. Edito os meus próprios livros para ter o máximo de qualidade que os outros não têm. Vivo razoavelmente. A casa onde vivo é minha e tenho um carro com 13 anos. Nunca fui um tipo de grandes luxos.»

 

Eduardo Gageiro (2025). Eduardo Gageiro (1935-2025): “Só não vou com a máquina para o caixão’’, disse-nos em grande entrevista em 2017. Expresso em linha, 4 de junho de 2025 [replicando a grande entrevista inicialmente publicada no dia 29 de julho de 2017].

 

Artigo e fonte da imagem aqui.

 

 

 

Imagem publicada neste trabalho da página Comunidade, Cultura e Arte intitulada «Morre Eduardo Gageiro, fotojornalista da realidade do país e do 25 de Abril, aos 90 anos», que reproduzimos com a devida vénia: