«O uso de pseudociência costuma associar-se a menor educação ou menor conhecimento científico. Mas menciona, contando histórias sobre isso no livro, que não é bem assim e qualquer pessoa pode cair.
Há muitos factores que interagem entre si. Para mim, é útil pensar no que está a acontecer a nível individual e depois a nível social.
A nível individual, existem factores cognitivos, como os nossos estilos de pensamento. Todos somos susceptíveis à desinformação. Derivada do trabalho de Daniel Kahneman [psicólogo e economista, Nobel da Economia em 2002], a investigação sobre o estilo de pensamento intuitivo face ao estilo de pensamento analítico mostra que, se simplesmente abrandarmos e activarmos o estilo de pensamento analítico, seremos menos susceptíveis à desinformação.
Outro aspecto cognitivo importante é a ideia de que toda a informação que percebemos é filtrada pelas lentes dos nossos sistemas de crenças e preconceitos pessoais. Ou seja, depois somos motivados a encontrar informação que confirme as nossas crenças e conclusões. Portanto, a mesma informação pode ser lida de formas muito diferentes, dependendo se se é liberal ou conservador politicamente, por exemplo.
E há também falta de humildade intelectual. Ou, por outras palavras, o inverso disto é que o narcisismo tem sido associado às teorias da conspiração.
Tudo isto está a interagir com o nível social. Se estivermos online, como muitos de nós estamos, os algoritmos das redes sociais são criados de tal forma que o que se vai tornar viral é informação simplificada e carregada de emoção — é isso que se torna viral e é isso que nos é transmitido. A investigação tem demonstrado que a informação falsa viaja mais [rapidamente] e chega a mais gente do que a informação verdadeira.
Não são apenas os algoritmos, mas também os maus intervenientes, ou seja, quem realmente procura dar informação falsa às pessoas, sejam influencers do Instagram, burlões ou organizações de grande escala como a Children’s Health Defense, do Robert F. Kennedy Jr. [secretário da Saúde dos Estados Unidos] – que é bem financiada e está no X [antigo Twitter] todos os dias a bombardear as pessoas com propaganda antivacinas.»
(2024). A pseudociência não é uma brincadeira inocente. Público em linha, 4 de maio de 2025.
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