Debate | APP: O digital na aprendizagem e na avaliação da língua

HISTÓRICO DA FORMAÇÃO Alguns dos desafios e problemas que o digital introduz na aprendizagem e na avaliação de uma língua são simétricos de mais-valias reconhecidas, o que mostra a complexidade deste tópico. Neste contexto, os professores desempenham um papel criticamente importante na reflexão sobre este problema complexo e na criação de ambientes e experiências de aprendizagem que sejam didaticamente pertinentes, inspiradores, motivadores, enriquecedores e culturalmente autênticos, o que está longe de estar refletido em muitos dos comentários que têm surgido cada vez com mais frequência, quer nas escolas, quer na comunicação social.

Formadores: Carla Silva, Luís Filipe Redes e Teresa Monteiro
Dinamizadores convidados: Ana Albuquerque e Aguilar (investigadora no Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, bolseira da FCT, investigadora convidada da Universidade de Barcelona, doutoranda em “educação literária na era digital: o contributo da literatura eletrónica”), Benita Prieto (curadora, consultora, produtora, formadora e mediadora de projetos de leitura), Catarina Stichini (leitora, formadora e professora de Português na Suécia), Nuno Mantas (diretor do AE da Boa Água, Sesimbra), Paula Simões (diretora dos Serviços de Avaliação Externa do IAVE), João Pedro Aido (vice-presidente da APP)
Modalidade: Ação de curta duração / Formação a distância
Número de horas: 3 horas a distância
Destinatários: Professores dos grupos 110, 200, 210, 220, 300, 310, 320, 330, 340 e 350 (n.º 1 do art. 8.º e art. 9.º do RJFCP)
Datas e horários: 11 de setembro de 2023, 16–19 horas
Número máximo de inscritos: 200 participantes (prioridade a sócios)

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Texto de apresentação

Os recursos digitais permitem benefícios significativos no processo de ensino, aprendizagem e avaliação das línguas. A incorporação de tecnologia nas aulas de língua (materna, não materna, estrangeira, por ex.) pode tornar o ensino mais envolvente, acessível e eficaz. Pode, nomeadamente, permitir mais:

  1. Acessibilidade: o digital pode proporcionar maior acessibilidade a recursos educacionais para estudantes de diversas origens e diferentes níveis de literacia. Plataformas de aprendizagem em linha, recursos, aplicativos e ferramentas permitem que os alunos estudem de acordo com os seus próprios ritmos, independentemente de onde estejam.
  2. Motivação e empenho: a incorporação de elementos digitais, como jogos interativos, vídeos, áudios e quízes, pode tornar as aulas mais interessantes e inspiradoras. Isso pode aumentar a motivação dos alunos e mantê-los mais empenhados no processo da sua aprendizagem.
  3. Personalização e diferenciação do ensino e da aprendizagem: com o uso do digital, é possível adaptar o conteúdo e as atividades de acordo com as necessidades e preferências de cada aluno. As plataformas de aprendizagem podem oferecer recursos personalizados com base no desempenho individual de cada estudante.
  4. Colaboração e interação: a tecnologia pode facilitar a comunicação e a colaboração entre alunos e professores, mesmo a distância. Ferramentas como fóruns em linha, bate-papos e videoconferências permitem que os alunos pratiquem conteúdos linguísticos e trabalhem em projetos em conjunto.
  5. Aprendizagem autónoma: o digital oferece aos alunos a oportunidade de assumirem um papel mais ativo na sua aprendizagem. Com recursos acessíveis, eles podem continuar a praticar competências e conteúdos linguísticos fora do ambiente formal da sala de aula.
  6. Recursos multimédia: o digital permite o uso de recursos multimédia, como vídeos, músicas, notícias e podcasts, que permitem desenvolver a aprendizagem de uma língua ao expor os alunos a diferentes aspetos da cultura, literatura, património e variedades linguísticas, por exemplo.
  7. Retorno imediato e de qualidade: algumas plataformas e aplicativos oferecem retorno (feedback) imediato sobre o desempenho dos alunos, ajudando-os a identificar competências que precisam de ser melhoradas e a corrigir erros rapidamente.
  8. Literacia e preparação para o mundo digital: a sociedade atual é altamente tecnológica, e o uso de recursos digitais no ensino das línguas prepara os alunos para interagir com diferentes ferramentas e tecnologias no mundo profissional e pessoal.

 

No entanto, é essencial garantir que o uso do digital e um ensino mais ‘tradicional’ sejam complementares. O equilíbrio entre abordagens é importante para atender às necessidades e preferências individuais dos alunos e para proporcionar uma experiência de aprendizagem mais robusta, eficaz e completa. Além disso, é fundamental fornecer uma formação adequada aos professores para que eles possam aproveitar ao máximo as ferramentas digitais e incorporá-las de forma eficaz na sua docência e preparação das aulas.

De facto, alguns dos desafios que o digital introduz no ensino e na aprendizagem das línguas, como múltiplos textos de opinião recentes mostram (cf. Bibliografia de trabalho e outros recursos em linha), incluem problemas como os seguintes, alguns dos quais são simétricos das mais-valias anteriormente referidas, o que mostra a complexidade deste tópico:

  1. Falta de interação pessoal: o ensino digital pode restringir a interação face a face entre alunos e professores, o que prejudica a prática da língua, a comunicação real e a consistência das aprendizagens. A interação pessoal é essencial para o desenvolvimento de competências linguísticas, como o período de pandemia mostrou cabalmente.
  2. Menos motivação e empenho: em ambientes digitais, os alunos podem perder o interesse rapidamente, especialmente se não houver uma variedade de atividades interativas e estimulantes, o que reforça uma componente lúdica que pode não ser essencial. A falta de motivação pode afetar negativamente o progresso e a aprendizagem dos alunos.
  3. Democracia e equidade: nem todos os alunos têm acesso igual ou equivalente a dispositivos digitais ou a internet de alta velocidade, o que pode levar a desigualdades, inclusive regionais, no acesso à educação e afetar negativamente todos os que não têm recursos tecnológicos adequados.
  4. Falta de retorno personalizado: as plataformas digitais podem fornecer retorno automatizado, mas muitas vezes esse retorno não é tão eficaz quanto o fornecido por um professor experiente, o que leva os alunos a não receberem a orientação personalizada que as suas necessidades específicas exigiriam.
  5. Problemas de autenticidade: o conteúdo digital nem sempre reflete a autenticidade de uma língua e a diversidade literária e cultural de um país, o que pode comprometer uma compreensão robusta e alargada da sua língua, cultura e património literário.
  6. Distrações em linha: o ambiente digital, com redes sociais e páginas com conteúdos divertidos, leva os alunos a distraírem-se e a perderem a concentração e o empenho necessários na aprendizagem (de uma língua e de conteúdos de outras disciplinas), daí que um dos tópicos recentes e recorrentes deste problema se traduza na reflexão sobre o ‘caso sueco’ e as experiências de proibição de telemóveis nas escolas em contextos específicos (por ex., nos intervalos).
  7. Dependência excessiva de traduções automáticas e enviesamento nas variedades de uma língua: algumas plataformas digitais usam traduções automáticas, o que pode levar os alunos a dependerem delas em vez de desenvolverem as suas competências de compreensão e expressão numa determinada língua. Uma variante deste problema é o acesso predominante dos alunos portugueses à variedade brasileira do português, o que pode conduzir a uma ‘assimilação’ linguística e cultural sem a correspondente consciência linguística dessa incorporação.
  8. Isolamento e falta de colaboração: a aprendizagem de línguas envolve tipicamente trabalho em grupo e colaboração. O ensino digital pode levar a um maior isolamento dos alunos e reduzir as oportunidades e as vantagens de prática em conjunto.

 

Todos estes tópicos, entre muitos outros, nos mostram a importância e a urgência de uma reflexão sobre o digital na educação, em geral, e no ensino, aprendizagem e avaliação de uma língua, em particular.

Neste contexto, os professores desempenham um papel criticamente importante na reflexão sobre este problema tão complexo e na criação de ambientes e experiências de aprendizagem que sejam didaticamente pertinentes, inspiradores, motivadores, enriquecedores e culturalmente autênticos, o que está longe de estar refletido em muitos dos comentários que têm surgido cada vez com mais frequência, quer nas escolas, quer na comunicação social.

 

Objetivos

Com esta ação de curta duração pretende-se:

  1. Identificar as vantagens e desvantagens do uso do digital na aprendizagem e na avaliação de uma língua.
  2. Discutir o balanço entre interatividade, autonomia da aprendizagem, equidade e dependência excessiva da tecnologia.
  3. Debater como o uso de elementos multimédia, gamificação e ‘recompensas digitais’ pode aumentar a motivação e o interesse dos alunos no processo de aprendizagem.
  4. Discutir como o uso constante de dispositivos digitais pode levar à dependência, à falta de concentração e prejudicar a capacidade de aprendizagem em ambientes não digitais.
  5. Compreender a validade e a qualidade dos recursos digitais disponíveis.
  6. Refletir sobre a integração do digital na educação, em geral, e no ensino do Português, em particular.
  7. Reconhecer o possível ponto de equilíbrio entre estratégias digitais e ambientes de aprendizagem mais tradicionais.
  8. Analisar o papel do professor e das escolas no contexto de um ambiente digital tendencialmente generalizado.
  9. Compreender aspetos implicados na autoavaliação e na avaliação externa em formato digital.
  10. Analisar as implicações desta formação na promoção de uma escola mas inclusiva e democrática e no sucesso escolar de todos os alunos.

 

Conteúdos

  1. Apresentação da formação “O digital na aprendizagem e na avaliação da língua”.
  2. Aspetos positivos, desafios, problemas e questões pedagógico-didáticas e técnicas que esta mudança de paradigma coloca.
  3. Discussão e debate de ideias.
  4. Síntese dos principais argumentos e exemplos colocados em destaque no debate.

 

 

Bibliografia de trabalho

 

Amante, Lúcia, Oliveira, Isolina, & Gomes, Maria João (2014). Avaliação digital nas universidades públicas. EUTIC 2014 Lisboa – O papel das TIC no design de processos informacionais e cognitivos.

 

Black, P., & William, D. (2009). Developing the Theory of Formative Assessment. Educational Assessment, Evaluation and Accountability, 21, 5-31.

https://doi.org/10.1007/s11092-008-9068-5

 

Desmurget, Michel (2021). A fábrica de cretinos digitais. Contraponto.

 

Hornink, Gabriel Gerber IDEADIGITAL #30: Possibilidades para a avaliação online. Centro IDEA – Universidade do Minho.

 

Pais, Hélder, & Candeias, Fernanda (2022). Avaliação Formativa digital. Direção-Geral da Educação.

 

UNESCO (2023). Technology in education: a tool in whose terms? Global Education Monitoring Report. United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization.

 

Outros recursos em linha

 

Agenda 2030 para o desenvolvimento sustentável, em linha: https://globalcompact.pt/index.php/pt/agenda-2030

 

Id., Educação de qualidade: https://globalcompact.pt/index.php/pt/agenda-2030/86-objetivo-4-educacao-de-qualidade

 

Entrevista de Jorge Andrade a Michel Desmurget, Sapo LifeStyle em linha, 7.1.2022: https://lifestyle.sapo.pt/familia/noticias-familia/artigos/a-capacidade-dos-nossos-filhos-raciocinarem-sobre-a-informacao-na-internet-resume-se-a-uma-palavra-desoladora-michel-desmurget-neurocientista

 

El Periódico em linha, 2.6.2023: https://www.elperiodico.com/es/sociedad/20230602/suecia-paraliza-plan-digitalizacion-escuelas-88078863

 

Podcast Perguntar Não Ofende, de Daniel Oliveira, sobre a questão de banir telemóveis das escolas básicas – com Mónica Almeida, Mónica Pereira e Laura Sanches, 3.7.2023: https://expresso.pt/podcasts/perguntar-nao-ofende/2023-07-03-Devemos-banir-telemoveis-das-escolas-basicas–Laura-Sanches-Monica-Almeida-e-Monica-Pereira-respondem-a-Daniel-Oliveira-26bf89f7

 

Artigo de opinião de Santana Castilho, jornal Público em linha, 5.7.2023:

https://www.publico.pt/2023/07/05/opiniao/opiniao/vamos-continuar-assim-2055653

 

Notícia sobre a proibição dos telemóveis nas salas de aula holandesas a partir de 1 de janeiro de 2024, Público, 5.7.2023:

https://www.publico.pt/2023/07/04/impar/noticia/telemoveis-vao-proibidos-salas-aula-holandesas-proximo-ano-2055612