Dia Mundial da Poesia

No Dia Mundial da Poesia, comemoramos a diversidade do diálogo, a livre criação de ideias através das palavras, da criatividade e da inovação (Unesco, 30.ª Conferência Geral, 16 de novembro de 1999).

Múltiplas homenagens e atividades têm lugar hoje e ao longo do ano: Eugénio de Andrade, Natália Correia, Ruy Belo, Ana Luísa Amaral, José Saramago e tantos outros(as) poetas vão ser lidos, discutidos, comemorados, homenageados, em múltiplos dias e lugares.

Alguns exemplos:

Na Fundação Calouste Gulbenkian, no âmbito do Ano Novo do Calendário Persa – o Noruz–, a celebração da poesia em português e persa far-se-á com a leitura de poemas de Fernando Pessoa, Sophia, Maria Gabriela Llansol, bem como poemas de inspiração sufi de Rūmī, Khayyām, Ibn ‘Arabī e Rābi‘a, lidos na língua original. 

A Casa Fernando Pessoa marca encontro com os leitores no Jardim da Parada, em Campo de Ourique, numa Feira do Livro de Poesia. Também em março, a Casa Fernando Pessoa e a Junta de Freguesia de Campo de Ourique retomam o projeto Poesia Estendida, em que se convida os vizinhos do bairro a colocar bandeiras com versos à janela. É um projeto que nasceu na pandemia e que teve uma grande adesão, tendo chegado a diferentes locais da cidade.

No Porto, os versos estão nas ruas e viajam a bordo de um autocarro – que em abril vai passar pelos bairros. Há ainda poesia lida no metro e um concerto na Biblioteca Almeida Garrett.

Dar a palavra aos poetas será sempre o mais importante. Fernando Pessoa, num dos seus aforismos, defende que “O poeta vale aquilo que vale o melhor dos seus poemas” (Pessoa, Fernando (2003). Aforismos e Afins (p. 61). Assírio & Alvim.). Alguns exemplos, começando com um anónimo árabe:

 

Um galo que canta, um cavalo que relincha,

um gato que volteia: a aurora.

Um lírio que se inclina, um limão que cai,

uma árvore que estala: meio dia.

As areias que azulecem, os fumos que sobem,

os amantes que se encontram: a noite.

 

Pessoa, Joaquim (Trad.) (1984). Os Herdeiros do Vento. Antologia Apócrifa. Litexa.

 

 

Neve que derrete:

E na aldeia

Caem as crianças.

 

Kobayashi, Issa (2001). Neve que derrete. In Manuel Hermínio Monteiro (Ed.), Rosa do Mundo. 2001 Poemas para o Futuro (p. 1103). Assírio & Alvim.

 

 

Quando estou contigo…

 

Quando estou contigo, ficamos acordados toda a noite.

Quando não estás comigo, não consigo adormecer.

 

Louvado seja Deus, por estas duas insónias!

E pela diferença entre elas.

 

Rumi (2003). Quando estou contigo… In Jorge Sousa Braga (Org.), Qual é a Minha ou a Tua Língua? (p. 25). Assírio & Alvim.

 

 

Conta-mo outra vez

 

Conta-mo outra vez: é tão bonito

que não me canso nunca de escutá-lo.

Repete-me outra vez que o par

do conto foi feliz até à morte.

Que ela não lhe foi infiel, que a ele nem sequer

lhe ocorreu enganá-la. E não te esqueças

de que, apesar do tempo e dos problemas,

continuaram beijando-se cada noite.

Conta-mo mil vezes por favor:

é a história mais bela que conheço.

 

Bautista, Amalia (2003). Conta-mo outra vez. In Jorge Sousa Braga (Org.), Qual é a Minha ou a Tua Língua? (p. 95). Assírio & Alvim.

 

 

Memórias

 

Quando tinha 12 anos, fumava Ritz, punha Eau Verte de Puig, ouvia Cat Stevens, escrevia poemas num caderno cor-de-laranja comprado em Bruxelas. Estava apaixonada e não era correspondida.

 

Lopes, Adília (2015). Memórias. In Manhã (p. 18). Assírio & Alvim.

 

 

e eu sensível apenas ao papel e à esferográfica:

à mão que administra a alma

 

Helder, Herberto (2014). e eu sensível apenas ao papel e à esferográfica:. In A Morte Sem Mestre (p. 26). Porto Editora.

 

 

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