Dia Mundial do(s) Professor(es) | 2022
Uma boa escola do nosso tempo, servindo-se do que a psicologia lhe vai a cada passo revelando e dos muitos meios práticos de ensinar bem, com fácil proveito, já conhecidos, não é senão um lugar de felicidade, um lugar onde a criança se sente à vontade. Nada lá a desanima nem a tortura, tudo lhe solicita a actividade e o interêsse.
Lisboa, Irene (1942). Modernas tendências da educação (p. 10). Biblioteca Cosmos, nº 21.
Janeiro, 12 [1948]
«O que eu quero principalmente é que vivam felizes.»
– Não lhes disse talvez estas palavras, mas foi isto o que eu quis dizer. No sumário, pus assim: «Conversa amena com os rapazes». E pedi, mais que tudo, uma coisa que eu costumo pedir aos meus alunos: lealdade. Lealdade para comigo e lealdade de cada um para cada outro. Lealdade que não se limita a não enganar o professor ou o companheiro: Lealdade activa, que nos leva, por exemplo, a contar abertamente os nossos pontos fracos ou a rir quando temos vontade (e então rir mesmo, porque não é lealdade deixar então de rir) ou a não ajudar falsamente o companheiro.
«Não sou, junto de vós, mais do que um camarada um bocadinho mais velho. Sei coisas que vocês não sabem, do mesmo modo que vocês sabem coisas que eu não sei ou já esqueci. Estou aqui para ensinar umas e aprender outras. Ensinar, não: falar delas. Aqui e no pátio e na rua e no vapor e no comboio e no jardim e onde quer que nos encontremos.»
Não acabei sem lhes fazer notar que «a aula é nossa». Que a todos cabe o direito de falar, desde que fale um de cada vez e não corte a palavra ao que está com ela.
Gama, Sebastião da (2005). Diário (13.ª ed., p. 23). Edições Arrábida.
Como pano de fundo destas vivências e inquietações, estavam obviamente as leituras. Já nessa fase, mais do que tudo, eram elas o território onde a experiência se enraizava e a imaginação bebia.
Esse território tinha-se alargado. Às que a biblioteca itinerante me “oferecia” mensalmente, juntavam-se agora outras publicações menos ortodoxas, mas decisivas na nossa formação.
Devo-as aos meus vizinhos, os rapazes da família Ramires, que na adolescência passaram a ser compradores regulares do “Cavaleiro Andante” e do “Mundo de Aventuras”, revistas de tão boa memória.
Entretanto, tinha-me tornado uma leitora convicta e rendida ao poder da leitura: lia e relia, vorazmente, tudo — o livro da escola, de ponta a ponta, mesmo as lições a que ainda não tínhamos chegado; os antigos livros de estudo da minha irmã e, sobretudo, alguns do meu pai e do meu vizinho mais novo, o Vasco (até folheava os de uma disciplina chamada Desenho de Máquinas, do antigo curso industrial…), contos e novelas de autores portugueses, de quem já sabia o nome, mas também fábulas, contos maravilhosos de que havia distintas versões, narrativas das “Mil e uma Noites” (eu ouvia o “abre-te Sésamo!” e via dúzias de potes cheios das maiores riquezas…), as aventuras da Alice e também as de Robinson, na sua longínqua ilha… e muitos, muitos outros livros.
Mas lia mais. Em primeiro lugar, o jornal: mal o meu pai chegava, depois de o beijar, ia ao bolso do casaco onde ele o trazia, dobrado em quatro, e sentava-me a lê-lo. Algumas vezes fez-se zangado por eu nem sequer lhe perguntar se ele já o tinha lido, mas sempre soube o quanto lhe agradavam os meus hábitos de leitura.
Amor, Emília (2010). Pura memória (pp. 102-103). Inédito.
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