Faleceu o escritor António Torrado, autor de uma obra vastíssima, com mais de 140 títulos publicados, de poesia, narrativa e teatro, sobretudo para crianças e jovens. Começou a publicar aos dezoito anos e desde muito cedo se ligou à pedagogia, à recuperação e reinterpretação do conto tradicional e à promoção da leitura.
Fotografia: Jornal de Notícias
Segundo António Torrado, em entrevista à revista Palavras da APP, realizada em 2013, “O ensino do Português tem mergulhado no silêncio”.
P. – Refere-se ao silêncio da leitura ou à falta de uma tradição da literatura oral?
A.T. – Talvez um pouco ao reduzido exercício da oratura, da oralidade nos programas e de os professores não cultivarem mais o soltar a voz, lendo e fazendo ler em voz alta, de uma forma que não é declamada, mas com o ênfase todo da leitura – e daí, se me permite, desviava-me já para a História do Dia. Quando me impliquei neste projeto, o que mais me encantou foi a oportunidade de ler em voz alta, de acompanhar o leitor ou os leitores que, pelo mundo, me têm ouvido ler. Muitas vezes, a criança rejeita ou embaraça-se com a leitura porque faz uma leitura silabada, o que prejudica, limita a interpretação da leitura. Faz uma leitura de adições: sílabas para formar palavras, palavras para formar frases, frases para formar sentidos, e não sente enquanto está a ler. Penso que o teatro, na escola, devia ser obrigatório.
In Palavras, n.º 42-43, 2013, pp. 13-14.