O cientista que Portugal esqueceu

Nos 120 anos do nascimento de Armando de Lacerda, recordamos algumas notícias que têm procurado, nos últimos anos, resgatar do esquecimento um dos mais notáveis cientistas portugueses de sempre e o criador, em Coimbra, de um dos laboratórios de fonética mais avançados do mundo e que atraiu para Portugal alguns dos mais destacados membros da comunidade científica internacional, procurando retirar o país da periferia científica, durante a ditadura do Estado Novo.

Alguns destaques da notícia publicada no jornal Expresso, em 18 de outubro de 2019, e em acesso público aqui:

O ano de 1932 fica marcado ainda pela realização do I Congresso Internacional de Ciências Fonéticas, que teve lugar em Amsterdão. Autorizado pela comissão organizadora a proferir uma conferência na qual faria demonstrações de um novo aparelho de sua autoria, o policromógrafo, Armando de Lacerda tornar-se-ia num dos pólos de atração do encontro. “Reconhecendo a importância dessa participação, que consagraria um português como o criador de um novo método de investigação, o cromográfico – método de registo sonoro para análise de sons da linguagem – e garantindo a sua repercussão no desenvolvimento da Fonética Experimental em Portugal, a JEN [Junta de Educação Nacional] concede um subsídio extraordinário de 11.000$00 para a construção do aparelho, que ficará em posse do Centro de Estudos Filológicos”, explica Quintino Lopes.

No fim desse ano, Lacerda recebe o reconhecimento internacional, quando o presidente da International Society of Experimental Phonetics, E. W. Scripture, escreve a Paul Menzerath atestando-o: “Acabo agora mesmo de percorrer o trabalho genial de V. Xª e do Sr. Lacerda. Só posso dizer que sob o ponto de vista da aparelhagem e dos métodos se chegou a uma perfeição até hoje ainda não alcançada. Não posso deixar de admirar a genialidade e habilidade dos autores. Os registos propriamente ditos são de uma precisão e perfeição que não têm igual. As explicações das curvas são excelentes. As conclusões que se deduzem são da maior importância. O trabalho é certamente do melhor que se tem publicado na fonética experimental.”

 

Algumas instituições, como Harvard, Uppsala, Bona ou Londres, concederam bolsas aos seus investigadores para estudarem em Coimbra com o cientista português, que criou ainda o primeiro laboratório de Fonética Experimental da América do Sul, na Baía, a que se seguiu a criação de um espaço semelhante no Rio de Janeiro.

Infelizmente, de todo o trabalho inovador de Armando de Lacerda, que foi docente convidado na Universidade de Madison-Wisconsin e no Queens College, em Nova Iorque, sobra hoje sobretudo um injusto esquecimento – de um autor que, além dos estudos pioneiros de fonética, escreveu mais de dez peças de teatro, obras de poesia e deixou todo um legado que está praticamente por estudar.

No entanto, alguns investigadores, como Quintino Lopes, do Instituto de História Contemporânea e do Grupo Ciência da Universidade de Évora, têm-se dedicado a resgatar e a libertar ‘da lei da morte’ o trabalho de Armando de Lacerda. Alguns dos desenvolvimentos mais recentes do resgate dessa memória podem ser encontrados aqui, aqui e aqui.

 

 

Fonte da imagem aqui.