A professora Ana Paula Arnaut, do Centro de Literatura Portuguesa da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra, vai proferir, no dia 3 de julho, às 9h30, a conferência
«Ler José Saramago à luz de António Vieira».
Resumo da sua conferência:
Reconhecidas pelo próprio José Saramago, as influências do barroco, e de António Vieira, em particular, abrangem, de modo tão inevitável como, por vezes, inextricável, diversos níveis de aplicação, ou, se preferirmos, diversas modalidades do abrangente conceito genettiano de transtextualidade, ou transcendência textual, isto é, tudo o que coloca o texto “em relação, manifesta ou escrita com outros textos”. Em termos mais precisos, essas influências respeitam a afinidades com as subcategorias do conceito, não só a arquitextual ou a hipertextual, mas, também, a que se prende com a intertextualidade, definida pelo autor francês como a “relação de co-presença entre dois ou mais textos”, ou, por outras palavras, como a presença efetiva de um texto em outro”, na linha de Julia Kristeva, para quem o texto é “um cruzamento de palavras (de textos), onde lemos, no mínimo, um outro texto”.
Algumas das reflexões a fazer serão, portanto, de índole geral, na tentativa de estabelecermos um paralelismo entre o espírito do sermonário vieiriano e o que preside à obra de José Saramago, em abordagem ainda não muito desenvolvida quer pela crítica saramaguiana quer por autores de diversos manuais escolares. Com efeito, estes últimos apenas têm assinalado os aspetos linguísticos ou a eventual semelhança entre a personalidade, e a oratória, do padre jesuíta e as de Bartolomeu Lourenço de Gusmão, conhecida personagem de um dos mais férteis romances para o estudo da matéria em apreço: Memorial do Convento (1982).