16.º ENAPP – Oficinas presenciais

O programa do 16.º Encontro Nacional da APP, que vai ter lugar na Universidade de Aveiro, no Departamento de Educação e Psicologia (edifício 5), prevê três oficinas presenciais, no dia 4 de julho, às 14 horas, dinamizadas pelo professor Carlos Alves e pelas professoras Maria José Gamboa e Noémia Jorge.

O professor Carlos Alves, da Escola Secundária de Camões, vai dinamizar a oficina

«Dramaturgia a partir de obra literária».

 

Resumo da apresentação da sua oficina:

Esta oficina visa explorar, em contexto de laboratório, formas de olhar para as obras literárias como material para a criação dramatúrgica.

A dramaturgia, aqui entendida enquanto processo para organizar ideias com vista a comunicar por meio da teatralidade e da performatividade, permite extrair da literatura lugares de pensamento e de relação com o mundo contemporâneo.

Esta conceção de dramaturgia a partir da obra literária distingue-se do mero processo de adaptação. Ela visa, sobretudo, encontrar na literatura novas leituras que possam ganhar forma na palavra falada e no movimento dos corpos.

A oficina desenrolar-se-á, assim, numa vertente de experimentação prática. Partiremos de excertos de obras literárias selecionadas e da sua análise para compreender as potencialidades performativas e teatrais que elas podem proporcionar. Desenvolveremos metodologias de pesquisa e de composição cénicas.

Numa primeira parte, apreenderemos e exploraremos algumas noções básicas de teatralidade e performatividade; de seguida, analisaremos textos e procuraremos descobrir formas de construir texto para cena a partir dali; por fim, aplicaremos o pensamento, as técnicas e metodologias experimentadas em exercícios concretos.

A oficina, tendo, como objetivo geral, o aprofundamento de possibilidades de relação do texto literário com as linguagens teatrais, pretende, especificamente:

– desenvolver competências de leitura e construção dramatúrgica;

– trabalhar conceitos e experimentar práticas de performatividade, no trabalho da Voz e do Movimento;

– compreender formas e linguagens da criação cénica contemporânea, na sua relação com a matéria escrita;

– perceber o texto como potência de movimento e gerador de matéria cénica;

– desenvolver perspetivas sobre o texto dramático e a sua relação com os outros géneros literários;

– distinguir as noções de teatro e literatura, nas perspetivas literária e performativa.

 

 

A professora Maria José Gamboa, do IP de Leiria, vai dinamizar a oficina

«Do silêncio dos livros à voz dos leitores: o lugar da literatura na escola».

 

Resumo da apresentação da sua oficina:

Partindo do diálogo permanente entre literatura, sociedade e escola, pretende-se construir um tempo de problematização e de procura de respostas para questões que atravessam as práticas de ensino e aprendizagem da literatura na escola. Qual o valor de mercado dos poetas, dos professores e dos alunos leitores? Por que precisa a escola de construir deliberadamente a inutilidade (Nuccio Ordine) da literatura? Como podem professores e alunos criar condições de resistência a mitos e a disparates impossíveis (Cervantes), enamorar-se pelos livros e viver a experiência viva da literatura na escola?

A procura de respostas às questões enunciadas far-se-á no cruzamento de propostas de práticas intertextuais e intermodais de leitura de textos literários e de escrita socializadas, com vista à formação de leitores.

Destinatários: Quem não andar espantado de existir (José Gomes Ferreira), subalimentados do sonho (Natália Correia) e quem não sabe por onde vai, mas sabe que não vai por aí (José Régio).

 

 

A professora Noémia Jorge, do CLUNL & IP de Leiria, vai dinamizar a oficina

«Da fluência de leitura à leitura expressiva».

 

Resumo da apresentação da sua oficina:

Esta oficina é norteada por dois objetivos complementares: por um lado, refletir sobre os conceitos de “fluência de leitura” e “leitura expressiva”, quer enquanto objetos explícitos de ensino-aprendizagem (e de avaliação), quer como “ferramentas” ao serviço da compreensão leitora; por outro, conceber/otimizar estratégias de promoção de desenvolvimento da fluência de leitura e da leitura expressiva, com vista ao estreitamento da relação afetiva entre o leitor e o texto, à fruição da leitura e ao desenvolvimento da compreensão leitora.

Integrando momentos de exposição, análise/reflexão colaborativa e exemplificação de estratégias pedadógico-didáticas, a oficina está organizada em três partes:

  • a primeira incidirá sobre a fluência da leitura (o que é? como pode ser “medida”/”avaliada”?), privilegiando os estudos de Viana (2009), Ribeiro e Viana coord. (2014), Puliezi e Maluf (2014) e Ehlert et al. (2024) e estabelecendo relações com as Aprendizagens Essenciais (DGE, 2018) e com o recente Diagnóstico da Fluência Leitora (MECI, 2025; IAVE, 2025); o trabalho oficinal assentará na análise da leitura de uma anedota por um aluno de 2.º CEB (Texto 1, em anexo);
  • na segunda parte, a reflexão recairá sobre os planos que enformam a leitura expressiva, enquanto atividade de expressão oral, com base na perspetiva de Marques (no prelo) e valorizando-se os planos linguístico, paralinguístico (com destaque para a prosódia) e cinésico; o ponto de partida para o trabalho oficinal será a fruição/apreciação/análise da “leitura” do poema “Rifão quotidiano” de Mário-Henrique Leiria, por Paulo Condessa (Texto 2, em anexo);
  • por fim, estabelecer-se-á a relação entre leitura expressiva e compreensão leitora, apresentando-se estratégias de promoção de desenvolvimento da fluência de leitura, na linha de Viana & Ribeiro (2020), e exemplificando-se uma estratégia pedagógico-didática proposta por Leite (2012, 2013) em que leitura expressiva é perspetivada como “ferramenta” ao serviço da compreensão leitura; os textos a utilizar nesse momento são “Microscópio”, de José Mário Silva, e “Pedro lembrando Inês”, de Nuno Júdice (Textos 3 e 4, em anexo).

 

Em suma, a oficina centra-se nas potencialidades didáticas da “leitura expressiva” enquanto atividade que não se restringe a questões de fluência ou velocidade, mas que, por implicar o trabalho intencional e explícito com a prosódia e com a cinésica, contribui para a compreensão leitora. Em última análise, pretende-sedemonstrar que a “fluência de leitura” é uma ponte para a “leitura expressiva” e que a “leitura expressiva”, para além de estreitar laços afeetivos entre texto e leitor, é uma via (alternativa aos questionários escritos?) para o desenvolvimento da compreensão leitora.