E quanto tempo você leva para produzir um conto?
Para escrever o menor dos contos, a vida inteira é curta. Nunca termino uma história. Cada vez que a releio, eu a reescrevo. E segundo os críticos, para pior…
(…)
E você pretende manter-se irredutivelmente fiel ao conto?
Há o preconceito de que depois do conto você deve escrever novelas, e afinal, romance. Meu caminho será do conto para soneto e dele para o hai-kai [haiku].
(…)
Quais os autores de sua preferência, seus livros de cabeceira?
A Bíblia, Homero, Cervantes, Tolstói, Tchekov, Flaubert, Joyce, Kafka. E após breve pausa, acrescenta: Sem esquecer Machado de Assis, o maior escritor brasileiro, o grande clássico da língua portuguesa.
Dalton Trevisan (2024). Grandes entrevistas – Dalton Trevisan. Tiro de Letra, consultado em linha em 13 de dezembro de 2024.
[Entrevista conduzida por Araken Távora, para a revista Panorama, de Curitiba, em julho de 1968, e republicada no jornal Nicolau, também de Curitiba, n.º 33, julho de 1990, de onde foi extraída. Nesta notícia, no jornal Público, relembra-se a sua «lendária aversão à imprensa», tendo vivido toda a sua vida em Curitiba, quase em reclusão. A Folha de São Paulo relembrava, no dia 10 de dezembro, que a sua última entrevista data de 1972, por isso a que deu a Araken Távora, em 1968, é uma das raras entrevistas que podemos ter o prazer de ler.]
Dalton Trevisan, que faleceu no dia 9 de dezembro de 2024, aos 99 anos, foi Prémio Camões em 2012 e é considerado o maior contista moderno do Brasil. Abel Barros Baptista, um dos nossos grandes especialistas em literatura brasileira, considera-o ‘provavelmente o maior contista brasileiro do século XX’. Michael Wood, crítico literário e Professor Emérito da Universidade de Princeton, escreveu na The New York Times Book Review que ‘a reação que se tem ao ler Trevisan é uma espécie de raiva. Raiva da perfeição da discrição do autor, da sua absoluta invisibilidade moral, quando sabemos que ele deve estar à espreita, escondido atrás do seu estilo.’
Fonte da imagem aqui.