EDUTALKS: O valor da educação

A 7 de dezembro, na Universidade de Coimbra, realizou-se uma sessão de “EDUTALKS”, uma conferência destinada a divulgar resultados de investigações no campo da educação, como parte do projeto EDULOG, uma iniciativa da Fundação Belmiro de Azevedo para a educação.

A parte mais significativa da sessão consistiu na apresentação de uma investigação[1] sobre como os portugueses percecionam o valor da educação por Orlanda Tavares, investigadora do CIPES[2] e do A3ES[3]. Esta exposição foi precedida por uma introdução a cargo de Madalena Alarcão, vice-reitora da Universidade de Coimbra. Após a palestra de Orlanda Tavares, houve uma me­sa‑redonda orientada pelos jornalistas Bárbara Wong e Pedro Tavares, em que a investigadora pôde discutir o significado destes resultados com os professores João Caramelo e Cristina Rocha. O fecho do encontro ficou a cargo de Alberto Amaral.

Na investigação referida, foram inquiridos pelo telefone cerca de 1200 cidadãos de várias idades e perfis académicos em que os resultados permitem concluir que quanto maior o nível de escolaridade mais valor os sujeitos atribuem à educação. Contudo, apesar de apreciarem a educação, muitos não pensam continuar a estudar. São obstáculos a essa continuidade formativa, a perceção de que o nível académico dos sujeitos é o adequado para o seu trabalho e que o seu esforço de formação adicional não seria premiado pelo mercado de trabalho. Estas declarações são consistentes com a estrutura empresarial em Portugal em que a maior parte das empresas não tem mais de dez empregados, tem um nível tecnológico baixo e uma fraca formação académica dos empregadores (cerca de 80% com escolaridade não superior ao 9° ano).

São as mulheres que expressam aspirações educativas mais altas, mas são os homens que mais concretizam o desejo de progresso na formação académica. Verifica-se que, na maior parte dos casos, o desejo é limitado à obtenção do grau académico imediatamente superior ao seu (por exemplo, passar do 4° para o 6°, deste para o 9°ou do 9° para o 12°). Embora a idade seja uma variável que diminui o desejo de formação, é nos jovens que a aspiração ao estudo tem uma relação mais instrumental.

A formação dos pais é um dos fatores mais relevantes do sucesso escolar dos filhos, pois a valorização da escola dos filhos depende dessa perceção sendo frequentes as situações em que os alunos sentem falta de cumplicidade dos pais no seu esforço escolar, principalmente quando a sua formação académica já supera a deles. Apesar dessas dificuldades, verifica-se que a maior parte dos pais dá apoio aos filhos. Quando tal não acontece, o tipo de desculpas varia: os homens falam em indisponibilidade por causa do trabalho; as mulheres em impreparação. Como os pais com menor escolaridade são os que menos apoio escolar proporcionam aos filhos e como as reprovações são mais frequentes entre os filhos de pessoas com escolaridade mais baixa (apenas com ensino básico), a mobilidade social fica severamente limitada. As crianças que tiveram menos sucesso na escola correspondem aos adultos que menos desejam formação. Assim a escola está apenas a reproduzir a desigualdade existente. O aumento da escolaridade obrigatória limita-se a adiar o momento decisivo da seleção social.

Para fazer face ao problema da seleção social na escola, Orlanda Tavares propõe que as políticas educativas sejam pensadas em conjunto com políticas sociais e económicas e que seja promovida a educação ao longo da vida. A este respeito, já Madalena Alarcão tinha considerado algumas mudanças que podiam fazer alguma diferença:

– A escola deve tomar a iniciativa de integrar os pais na escola. Por exemplo, deve chamá-los não só quando os filhos se comportam mal, mas também para anunciar sucessos por mais pequenos que sejam.

– Importa valorizar a qualificação académica mesmo quando parece ultrapassar a competência exigida no posto de trabalho. Pessoas com mais qualificação académica pensam mais eficientemente e dão respostas mais completas em situações de trabalho. Por exemplo: um auxiliar de ação educativa licenciado pode responder a questões colocadas pelos alunos de uma forma muito mais eficiente.

Tanto na palestra, como na introdução e na mesa-redonda que se seguiu, apareceram mais informações sobre os factos que fazem a seleção social:

– Mais de metade dos inquiridos não tiveram a experiência de os pais lhes terem lido livros em casa.

– Que 70% dos alunos de medicina tenham origem em pais com educação superior é uma evidência da seletividade social adiada para este nível de ensino.

 



[1] No final da sessão, foi recebida uma brochura com os resultados da pesquisa: EDULOG (2016). Que perceções têm os portugueses sobre o valor da educação? Porto: Fundação Belmiro de Azevedo.


[2] Centro de investigação de políticas de ensino superior.


[3] Agência de avaliação e acreditação do ensino superior.