Eugénio Lisboa

Eugénio Lisboa (1930-2024) foi poeta, ensaísta, crítico literário, memorialista, professor de literatura, professor catedrático visitante da Universidade de Aveiro, especialista dos modernismos literários da primeira metade do século XX, maior especialista português em José Régio, conselheiro cultural na embaixada de Portugal em Londres, presidente da Comissão Nacional da UNESCO (1995-1998), doutor honoris causa pelas universidades de Nottingham e de Aveiro, amante de gatos.

«Luís Caetano, no programa A Ronda da Noite, presta-lhe homenagem, evocando a sua obra, nomeadamente com excertos de Uma conversa silenciosa (2019) e de Indícios de Oiro (2009). Na 1ª emissão, recupera a conversa com o poeta, em 2010, aquando da edição do volume de ensaios Indícios de Oiro, compilação de décadas da sua intervenção crítica assinalando os seus 80 anos. Os livros e a leitura, as obras e outros escritores, as memórias dos lugares desde a infância, e olhares lúcidos sobre as letras e o mundo.» Continuar a ler aqui.

O seu editor refere que «Eugénio Lisboa nasceu em Moçambique (Lourenço Marques), em 1930, fez aí o liceu e licenciou-se em Engenharia Electrotécnica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Regressando a Lourenço Marques (Moçambique) em 1955, trabalhou como engenheiro na Câmara Municipal da Beira, tendo antes feito o cálculo da rede de iluminação pública da cidade de Lourenço Marques. A partir de 1958 e até 1976, passou a trabalhar na indústria petrolífera (TOTAL, SONAP e SONAREP). Simultaneamente a esta actividade profissional, dedicou-se a uma intensa actividade cultural, em jornais, rádio e cineclube. Ensinou Análise da Narrativa e Literatura Portuguesa nas universidades de Lourenço Marques e Pretória (UNISA). Entre 1976 e 1995, leccionou na Universidade de Estocolmo e foi conselheiro cultural na embaixada de Portugal em Londres (dezassete anos). Foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO (1995-1998) e professor catedrático visitante da Universidade de Aveiro. Tem uma vasta obra ensaística, dois livros de poesia, seis volumes de memórias e três de diários. Teve prémios literários na poesia, no ensaísmo e no memorialismo. É doutor honoris causa pelas universidades de Nottingham e de Aveiro.»

 

Na entrevista de Miguel Real a Miguel Tamen e Eugénio Lisboa, «Um cânone é uma lista e uma lista é uma escolha», diz o autor de Vamos Ler! Um Cânone para o Leitor Relutante (Guerra & Paz, 2021):

«O que eu às vezes me pergunto em relação a certos nomes estabelecidos é se, com outra situação social (por exemplo, caso Dom Duarte não tivesse sido rei), os textos deles teriam sobrevivido até hoje. É a pergunta que faço. Eu tenho as minhas dúvidas. E não devemos ter medo de questionar. Conta-se que o Lope de Vega, no leito de morte, mandou chamar não um padre, mas um médico. Porque dizia ele: “Tenho uma confissão terrível a fazer; depois de fazer essa confissão, não tenho cara para olhar para ninguém. De maneira que preciso de saber se tenho muito tempo de vida ou se tenho pouco; se tiver pouco, faço a confissão.” Chamou o médico, o médico examinou-o com muito cuidado e, no fim, disse-lhe: “Se o senhor quer realmente fazer uma confissão, é melhor fazê-la depressa, porque a sua vida está por um fio.” E o Lope de Vega declarou: “O que eu tenho a confessar é horrível! É que eu acho o Dante tão chato!”. (Risos)»

Por isso mesmo, disserta no seu cânone para leitores relutantes sobre o ‘veneno literário’ e como «os escritores não [são] de fiar quando se trata de falarem uns dos outros» (p. 60), daí que, no mundo literário, se faça muita batota e se finja muito: «Muitos escritores, quando interrogados sobre as suas preferências literárias, respondem, não com os nomes de autores que realmente gostam de ler, mas antes com os nomes que julgam dever preferir, a bem da sua reputação» (p 49).

Não é o caso de Eugénio Lisboa, que pretende «aliciar, para a leitura de bons autores, gente, à partida, sem grande apetite para  esse “vício impune” que é a leitura» (p. 75), porque, entre nós, «parece haver o culto, de um snobismo provinciano, da “dificuldade”, do “aborrecido”, do “opaco”, da “circunvolução”, do “arrebicado”, do “complicado”, que confundem com o “complexo”. O simples e transparente parece-lhes pouco chique, intelectualmente falando. Enquanto, em ciência, se procura a explicação mais simples, em literatura, busca-se o obscuro e o artificialismo rebuscado. Wittgenstein observava que, quando um pensamento se não consegue exprimir com clareza e simplicidade, é porque  talvez ainda não esteja suficientemente maduro para ser expresso.»

Mas, como dizíamos, não é o caso de Eugénio Lisboa, que, nesta obra, apresenta um ‘cânone provocador e transgressor em que prevalece a alegria de ler livros’.

 

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