«Luís Caetano, no programa A Ronda da Noite, presta-lhe homenagem, evocando a sua obra, nomeadamente com excertos de Uma conversa silenciosa (2019) e de Indícios de Oiro (2009). Na 1ª emissão, recupera a conversa com o poeta, em 2010, aquando da edição do volume de ensaios Indícios de Oiro, compilação de décadas da sua intervenção crítica assinalando os seus 80 anos. Os livros e a leitura, as obras e outros escritores, as memórias dos lugares desde a infância, e olhares lúcidos sobre as letras e o mundo.» Continuar a ler aqui.
O seu editor refere que «Eugénio Lisboa nasceu em Moçambique (Lourenço Marques), em 1930, fez aí o liceu e licenciou-se em Engenharia Electrotécnica no Instituto Superior Técnico, em Lisboa. Regressando a Lourenço Marques (Moçambique) em 1955, trabalhou como engenheiro na Câmara Municipal da Beira, tendo antes feito o cálculo da rede de iluminação pública da cidade de Lourenço Marques. A partir de 1958 e até 1976, passou a trabalhar na indústria petrolífera (TOTAL, SONAP e SONAREP). Simultaneamente a esta actividade profissional, dedicou-se a uma intensa actividade cultural, em jornais, rádio e cineclube. Ensinou Análise da Narrativa e Literatura Portuguesa nas universidades de Lourenço Marques e Pretória (UNISA). Entre 1976 e 1995, leccionou na Universidade de Estocolmo e foi conselheiro cultural na embaixada de Portugal em Londres (dezassete anos). Foi presidente da Comissão Nacional da UNESCO (1995-1998) e professor catedrático visitante da Universidade de Aveiro. Tem uma vasta obra ensaística, dois livros de poesia, seis volumes de memórias e três de diários. Teve prémios literários na poesia, no ensaísmo e no memorialismo. É doutor honoris causa pelas universidades de Nottingham e de Aveiro.»
Na entrevista de Miguel Real a Miguel Tamen e Eugénio Lisboa, «Um cânone é uma lista e uma lista é uma escolha», diz o autor de Vamos Ler! Um Cânone para o Leitor Relutante (Guerra & Paz, 2021):
«O que eu às vezes me pergunto em relação a certos nomes estabelecidos é se, com outra situação social (por exemplo, caso Dom Duarte não tivesse sido rei), os textos deles teriam sobrevivido até hoje. É a pergunta que faço. Eu tenho as minhas dúvidas. E não devemos ter medo de questionar. Conta-se que o Lope de Vega, no leito de morte, mandou chamar não um padre, mas um médico. Porque dizia ele: “Tenho uma confissão terrível a fazer; depois de fazer essa confissão, não tenho cara para olhar para ninguém. De maneira que preciso de saber se tenho muito tempo de vida ou se tenho pouco; se tiver pouco, faço a confissão.” Chamou o médico, o médico examinou-o com muito cuidado e, no fim, disse-lhe: “Se o senhor quer realmente fazer uma confissão, é melhor fazê-la depressa, porque a sua vida está por um fio.” E o Lope de Vega declarou: “O que eu tenho a confessar é horrível! É que eu acho o Dante tão chato!”. (Risos)»
Por isso mesmo, disserta no seu cânone para leitores relutantes sobre o ‘veneno literário’ e como «os escritores não [são] de fiar quando se trata de falarem uns dos outros» (p. 60), daí que, no mundo literário, se faça muita batota e se finja muito: «Muitos escritores, quando interrogados sobre as suas preferências literárias, respondem, não com os nomes de autores que realmente gostam de ler, mas antes com os nomes que julgam dever preferir, a bem da sua reputação» (p 49).
Não é o caso de Eugénio Lisboa, que pretende «aliciar, para a leitura de bons autores, gente, à partida, sem grande apetite para esse “vício impune” que é a leitura» (p. 75), porque, entre nós, «parece haver o culto, de um snobismo provinciano, da “dificuldade”, do “aborrecido”, do “opaco”, da “circunvolução”, do “arrebicado”, do “complicado”, que confundem com o “complexo”. O simples e transparente parece-lhes pouco chique, intelectualmente falando. Enquanto, em ciência, se procura a explicação mais simples, em literatura, busca-se o obscuro e o artificialismo rebuscado. Wittgenstein observava que, quando um pensamento se não consegue exprimir com clareza e simplicidade, é porque talvez ainda não esteja suficientemente maduro para ser expresso.»
Mas, como dizíamos, não é o caso de Eugénio Lisboa, que, nesta obra, apresenta um ‘cânone provocador e transgressor em que prevalece a alegria de ler livros’.
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