“Fragilidades” do teste intermédio de 12.º ano – fevereiro 2014

O presente texto pretende evidenciar algumas “fragilidades” do Teste Intermédio de 12º ano (24 de fevereiro de 2014), prova e critérios de classificação...
ES João Gonçalves Zarco
E.S. João Gonçalves Zarco

Não sei se é sonho, se realidade,
Fernando Pessoa

Serve o verso em epígrafe de introdução a um texto que, de forma sintética, pretende evidenciar algumas “fragilidades” do Teste Intermédio de 12º ano (24 de fevereiro de 2014), prova e critérios de classificação.

Por uma questão de metodologia, cruzar-se-ão – sempre que necessário – os dois aspetos acima mencionados.

Assim:

Grupo I – B – opção 1

Questão 1. – Não há nada a assinalar relativamente ao enunciado. O mesmo não acontece quanto aos “cenários de resposta”, uma vez que estes parecem não obedecer ao verbo de comando (“Relaciona”) presente no enunciado. Dito de outro modo, “os cenários” propostos apenas descrevem o valor da interrogação e das exclamações sem explicitamente os relacionar. Aliás, julgamos ainda que a ordem escolhida (1º – a interrogação; 2º – exclamações) deveria ter sido a inversa, pois são as exclamações que levam à interrogação, e não o contrário.

Questão 2.

A escolha das estâncias 105 e 106 do Canto I parece-nos pouco feliz, uma vez que – como todos sabemos – neste plano do poeta, Camões aproveita para refletir sobre a Condição Humana, em particular sobre a insegurança “do bicho da terra tão pequeno”. Querer ver aqui – como o enunciado do item pede – a mitificação do Herói é forçar demasiado o texto. O Herói – só o é – depois de ultrapassadas com sucesso todas as provas e cumprida a sua missão – neste caso, chegar à Índia. A sua mitificação (seria mais rigoroso chamar-lhe deificação) só se atinge na “Insula Divina”, onde – unindo-se fisicamente às ninfas – os nautas são elevados ao estatuto de semideuses.

Por todas estas razões, “os cenários de resposta” propostos, particularmente o segundo [“Consciente da desproporção existente entre o “fraco humano”(v. 13) e o “Céu Sereno”(v. 15), o poeta acentua e enaltece a grandeza heroica daqueles que enfrentam forças adversas e, assim, se elevam ao nível dos deuses.” ]  parece-nos muito forçado. Provavelmente, quem elaborou a prova gostaria que a resposta dada pelos alunos tivesse sido essa, mas – para isso – a formulação do enunciado deste item teria também de ter sido diferente. Não foi.

Terminamos este texto, apontando aquele que nos parece ser um erro imperdoável. Referimo-nos concretamente à questão 2. da opção 2  – B – Grupo I.

Identificar no poema “Não sei se é sonho, se realidade” duas características temáticas da poesia de Fernando Pessoa Ortónimo não teria sido muito complexo se os alunos tivessem de as ter estudado.

Usamos propositadamente a modalidade deôntica com valor de obrigação para lembrar que as temáticas contidas no Programa ainda em vigor são:

Fingimento artístico; dor de pensar; nostalgia da infância. (página 46 do Programa)

Ora, o poema em questão (e os “cenários de resposta” traduzem-no bem) aponta para a “dor de pensar” mas também para “o sonho e a realidade”. Porém, se a primeira caraterística temática consta dos conteúdos programáticos, já a segunda – fundamental para a compreensão do texto e para uma resposta totalmente completa à questão 2. – não está contemplada no texto programático ainda em vigor. Curiosamente aparece no Novo Programa, com referência explícita ao poema citado… (página 27)

Se esta é “a realidade” de um Teste Intermédio, que poderemos esperar do Exame Nacional?  Se “a realidade” do Teste Intermédio pode (e deve) ser ultrapassada, o mesmo não acontecerá com o Exame Nacional.

Este despretensioso texto pretende evitar esse cenário de pesadelo, particularmente para os nossos alunos.

Matosinhos, 27 de fevereiro de 2014

O Representante de Português,

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(Luís Fernando Pinto Leite de Magalhães)

Nota: Texto aprovado em reunião dos professores que, no presente ano letivo, estão a lecionar o 12º Ano.