Revista Fluir

O número de dezembro da revista Fluir acabou de sair. É dedicado ao tema da dor e conta com um grande número de ‘autores convidados extraordinários’, um dos quais é Paulo Faria, que assina um conto intitulado «Os meus mortos».

Diz José Pacheco no editorial:

«As pessoas conhecem um trecho em que Nietzsche imagina o aparecimento de uma entidade que, na solidão de cada um de nós, nos traz a nova de que tudo quanto vivemos, as alegrias, mas também os males, os prazeres, mas todos os sofrimentos, se repetirão uma e outra vez no futuro, e para todo o sempre. É um trecho lindíssimo, que nos deixa com a pergunta: veríamos neste arauto um deus ou um demónio? Dir-lhe-íamos: “Sim, entreguei-me de tal maneira à minha vida, sinto-me tão grato por vivê-la, que aceito alegremente revivê-la para sempre, de novo, uma vez e outra vez e outra vez, com tudo o que nela me exaltou e com tudo o que nela me foi sacrifício”, ou, inversamente: “Que horror! Vai-te, demónio, que o que padeci não quero voltar nunca mais a sofrer?»

De facto, como diz ainda José Pacheco, «Há um sentido identificável em todo o nosso sofrimento – em toda a nossa dor, e falo apenas da dor própria, não com o modo como a sentimos por empatia, mesmo na da doença continuada: a de, tornando-nos impossíveis algumas ocupações – enfim, algumas experiências –, revelar-nos a possibilidade de outras, porventura ‘as’ essenciais.»

 

A epígrafe deste texto cita Proust, a partir de João Pedro Vala, in Dicionário de Proust:

«[A doença] permitirá que te concentres noutras ocupações que os homens tendem a negligenciar e que, no momento em que abandonamos o mundo, talvez consideres as únicas ocupações essenciais. Além disso, se eu a fecundar, a doença tem virtudes que a saúde desconhece. Os enfermos que favoreço vêem frequentemente coisas que escapam aos sãos.”

Marcel Proust, ‘O Correspondente Misterioso’

 

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