A professora Luzia Bueno, da Universidade de São Francisco, Grupo ALTER-LEGE, vai proferir, no dia 3 de julho, às 13h30, a conferência
«Oralidade, gêneros orais e literatura: uma parceria possível?».
Resumo da sua conferência:
Esta apresentação tem como objetivo refletir sobre uma possível articulação entre o ensino da oralidade e dos gêneros orais e a formação do leitor de literatura. Os documentos oficiais no Brasil, desde a década de 1990, já apontavam a necessidade de que se fizesse um trabalho com a oralidade e com os gêneros orais como partes essenciais do ensino de língua portuguesa. Em 2018, com o lançamento dos novos documentos de prescrição, a Base Nacional Curricular Comum, reforçou novamente essa necessidade.
Todavia, os professores apontam que uma das dificuldades de se fazer um bom trabalho com a oralidade e os gêneros orais reside na escassez de bons materiais didáticos ou outras fontes de recursos que possam auxiliá-los. Pesquisas apontam que ainda é forte a centração em apenas gêneros de textos nos livros didáticos, como a entrevista, o debate e a exposição oral / seminários.
Desse modo, temos buscado mudar esse contexto investindo em pesquisas e também na divulgação dessas para professores da educação básica por meio do Laboratório Brasileiro de Oralidade, Formação e Ensino (LABOR), coordenado pelas professoras, de diferentes regiões e estados brasileiros, Tânia Guedes Magalhães (Universidade Federal de Juiz de Fora – UFJF, Minas Gerais), Luzia Bueno (Universidade São Francisco – USF, São Paulo), Débora Amorim Costa-Maciel (Universidade Estadual de Pernambuco – UPE, Pernambuco) e Letícia Jovelina Storto (Universidade do Norte do Paraná – UENP, Paraná). Nas ações do laboratório, destaca-se o fato de que, desde 2021, quando começamos as nossas atividades, somente um dos pesquisadores trouxe essa relação entre o ensino da oralidade e da literatura. Ao verificarmos também, nas plataformas que divulgam teses e dissertação de pesquisas brasileiras, também não encontramos muitas pesquisas sobre essa relação.
Visando explorar melhor essa relação, temos investido em algumas ações práticas tanto na formação inicial quanto na formação continuada: em um curso de graduação de Pedagogia, que forma os professores para os anos iniciais, e em curso de extensão para os formadores de professores da rede municipal de Itatiba. Nessas ações práticas, partimos do quadro-teórico metodológico do Interacionismo sociodiscursivo, sobretudo nas discussões da didática do oral de Dolz e Schneuwly (1998/2016) e Schneuwly e Dolz (2004). Mobilizamos os conceitos de modelo didático e sequência didática, mas também os articulamos a autores que, inspirando-se nesse quadro, propuseram outros dispositivos como os percursos didáticos (Coutinho, 2023).
Nesta apresentação nos centraremos em três ações: uma primeira sobre o livro Olhos d’água, de Conceição Evaristo, e na retextualização de seus contos para exemplares de gêneros orais; uma segunda ação sobre livros de autores indígenas e a articulação com diferentes gêneros, e uma última sobre um percurso didático unindo contos de artimanhas e contação de histórias.
Os resultados das análises dessas três ações nos levam a perceber que, ainda que haja vários pontos a serem aperfeiçoados, é bastante produtividade a articulação do trabalho com a oralidade e os gêneros orais com a formação do professor para o ensino da leitura/literatura.