Nessa intervenção, o presidente da direção defendeu que os relatórios foram enviados atempadamente para as escolas, mas é importante haver um acompanhamento e esclarecimento dos resultados enviados, para não se repetir o problema que houve com as Provas de Aferição, cujos resultados, rigorosos, úteis e fiáveis, não eram usados tipicamente pelas escolas para a melhoria das aprendizagens dos alunos.
Por outro lado, as provas ModA, bem como as provas finais de ciclo (caso da prova de Português, no 9.º ano) e os exames finais nacionais, continuam a ter um número excessivamente grande de itens de seleção, que atingem os 60% no caso do 12.º ano, cuja prova permite que os alunos atinjam 91/200 pontos só em escolhas múltiplas, não sendo de todo irrelevante o efeito do acaso na seleção das alíneas corretas.
No caso das provas ModA e das provas finais de ciclo, o seu caráter não público, que impede que os alunos do 9.º ano tenham acesso à prova e aprendam com o seu desempenho – e impede-os de terem direito a uma verdadeira revisão de uma prova que conta para a sua avaliação final –, deixa numa zona de sombra a percentagem excessiva de itens de seleção, dado que não conseguimos ter acesso ao conteúdo das provas.
Por outro lado ainda, as escolas continuam sem ter uma estratégia para o digital, o que introduz um enviesamento nos resultados obtidos com provas em formato digital:
i. Mesmo quando se analisam os resultados da aplicação das provas e as condições que levaram a que corressem bem em muitas escolas, dessa análise não se destaca o problema particular das provas de Português.
ii. Em papel, os estudantes utilizam competências específicas da disciplina de Português que têm implicações positivas em ações estratégicas decisivas para a aprendizagem e os resultados dos alunos, como é o caso das técnicas de leitura associadas a técnicas de escrita (sublinhados, esquemas, notas na margem, por ex.), o que não é possível numa prova digital.
iii. As ferramentas digitais não permitem destacar a informação mais importante, ajudar a ler melhor um texto e responder melhor às questões colocadas.
iv. As ferramentas digitais também não permitem planificar adequadamente as produções escritas, sobretudo no caso dos itens de construção de resposta extensa, que os alunos fazem mais facilmente com papel e lápis mas não com um ecrã e teclado, daí que as provas digitais tendam a incentivar a escrita de textos mais curtos e não planificados, o que é um risco real, tanto mais importante quanto se constata um efeito retroativo das provas, o que pode levar a que se privilegie, em sala de aula, a produção de escrita em suporte digital, o que poderá ter efeitos negativos no desenvolvimento da competência da escrita.
v. Nenhum destes problemas foi salvaguardado em 2025 – e, neste contexto, a avaliação externa em formato digital não permite, no caso da disciplina de Português, garantir a equidade, porque não há ferramentas digitais que salvaguardem estes problemas e porque há uma desigualdade forte entre as escolas na implementação de estratégias digitais que permitam o acesso robusto dos alunos às ferramentas em que vão realizar as provas de avaliação externa.
Algumas destas questões foram apresentadas pela direção da APP na audiência com o Secretário de Estado Adjunto e da Educação, no dia 25 de setembro. Ver a notícia aqui.
O programa Páginas de Português é emitido no próximo domingo, dia 28, às 12h30, na Antena 2.
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