A sua obra situa-se numa fronteira complexa entre a ficção e o ensaio, como é bem visível em alguns dos seus textos mais representativos, como é o caso de A Morte da mãe (1979) ou Um imaginário europeu (2002), que desafiam os limites do género e se distribuem por diferentes formas. Além de uma forte componente feminista, evidente desde Os Outros Legítimos Superiores (1970), a obra de Isabel Barreno acompanha de forma crítica as grandes questões da construção e consolidação da democracia na sociedade portuguesa, desde a descolonização à integração na Europa, passando pela evolução da paisagem social e pela revisão das macroestruturas que balizaram o pensamento ocidental durante o século XX.
Além da sua produção artística em áreas que vão além da literatura, como a tapeçaria, o bordado e o desenho, não são menores as suas contribuições aos estudos sociológicos, através do trabalho que realizou como investigadora do Instituto de Investigação Industrial, entre 1962 e 1974, e que prosseguiu ainda na década de 1980, com dois estudos ainda hoje relevantes, O Falso Neutro – sobre a desigualdade na educação (1985) e O Direito ao presente (1988). A sua relevante produção artística e intelectual alia-se, ainda, a uma frenética atividade cívica, em que se destacou como fundadora do Movimento de Libertação das Mulheres (MLM) em 1974 e Conselheira para a Educação e Cultura na Embaixada portuguesa em Paris (1997- 2003), contribuindo assiduamente para a televisão, cinema, jornais e revistas.
No ano em que se inicia a publicação das suas obras completas pela Imprensa Nacional / Casa da Moeda (dir. Ana Rita Sousa), o Crilus (Centre de recherches interdisciplinaires sur le monde lusophone), a Cátedra Lindley Cintra do Camões – Instituto da Cooperação e da Língua da Universidade de Paris Nanterre, em colaboração com a Cátedra Fernando Pessoa da Faculdade de Línguas Estrangeiras da Universidade de Bucareste e o IELT, NOVA FCSH, no âmbito do projeto «Escritoras de língua portuguesa no tempo da Ditadura Militar e do Estado Novo em Portugal, África, Ásia e países de emigração», organizam o 1.° Colóquio Internacional dedicado ao conjunto da obra da autora, intitulado «Da História às histórias: reler e rever a obra de Maria Isabel Barreno no século XXI», a realizar-se em Paris, nos dias 14 e 15 de outubro de 2025.
A chamada de trabalhos, que esteve aberta até 15 de junho, procurava propostas de âmbito transdisciplinar e comparatista que contribuam para o estudo desta autora e para o conhecimento de uma obra multifacetada, passível de abordagens pluridisciplinares a partir de estudos de género, pós-coloniais, interartísticos e culturais.
De destacar que o festival FOLIO prevê, no dia 17 de outubro, na Galeria Nova Ogiva, no âmbito da secção FOLIO Mais, uma conversa com Ana Sousa e Maria João Martins sobre a obra de Maria Isabel Barreno e Natália Correia, com o título «As fronteiras da liberdade, da escrita, da ousadia, da luta».
No mesmo dia e à mesma hora, na Livraria do Mercado, também no âmbito da secção FOLIO Mais, Santiago Perez apresenta o livro Nuevas Cartas Portuguesas.
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Fonte da imagem neste cartaz.