Destaques do Ciberdúvidas – 24.10.25

Esta semana destacamos três «Artigos», a rubrica «Consultório e a rubrica «O Ciberdúvidas Vai às Escolas. No consultório, refletimos sobre complexos verbais, falamos sobre determinantes interrogativos e analisamos a diferença entre quantificadores e pronomes indefinidos. Nos artigos, destacamos uma reflexão sobre usos e normas, uma sobre a conjugação do verbo convir e uma terceira sobre a influência tupi no português do Brasil.

Na rubrica Artigos, destacamos três textos:

i. Um artigo, de Carla Marques, intitulado «Dantes ou “de antes”», sobre usos e normas.

Excerto do artigo, que pode ser lido aqui:

«Note-se que o advérbio dantes também existe e é usado em contextos específicos. Trata-se de um advérbio que tem o valor de «no tempo já passado; antigamente; outrora» e vemo-lo em frases como: «Dantes a fruta era mais barata».»

 

ii. Um artigo, de Sara Mourato, sobre a conjugação do verbo convir.

Excerto do artigo, que pode ser lido na íntegra aqui:

«Lê-se nesse texto [da comunicação social]: «[…] põem o dedo em feridas comuns que não convêm sarar num Estado de direita.»

O verbo convir, com acento circunflexo, está aqui conjugado na 3.ª pessoa do plural do presente do indicativo. Porém, o sujeito da frase não é plural. Trata-se de uma oração infinitiva: «sarar num Estado de direita»; e quando o sujeito é oracional, a norma gramatical exige concordância no singular. Portanto, a forma correta seria: «[…] feridas comuns que não convém sarar num Estado de direita.»…»

 

iii. Um artigo, de Fernando Pestana, sobre «A influência tupi no português do Brasil».

Neste texto, o linguista brasileiro analisa o livro A língua do Brasil, do filólogo e linguista Gladstone Chaves de Melo – que se encontra e pode ser consultado na Biblioteca do Ciberdúvidas, na sede da APP.

Excerto do artigo:

«Gladstone registra a existência de mais de 150 verbos com radicais tupis, número que supera o de origem árabe. Ressalta, contudo, que o português possui grande capacidade de derivar verbos de substantivos, o que facilitou a assimilação total do material linguístico indígena aos moldes morfológicos portugueses. Reforça também que o português do Brasil conservou, em larga medida, o sistema sonoro, a entonação, a pronúncia, a morfologia e a sintaxe do português dos séculos XV e XVI, o que explica sua semelhança com o português arcaico.

O linguista critica tanto os estudiosos portugueses, que ignoravam os avanços da filologia brasileira, quanto os brasileiros que, movidos por lusofobia, desejavam (desejam?) repudiar o legado europeu e advogar uma independência linguística impossível. Como a maior parte dos estudiosos de sua época, Chaves de Melo defende a unidade da língua portuguesa, reconhecendo a contribuição mútua das variedades de ambos os lados do Atlântico.»

 

 

 

Na rubrica Consultório, que permite que os consulentes façam perguntas aos especialistas do Ciberdúvidas – mas verificando primeiro se não existe já uma pergunta que tenha sido feita anteriormente e que responda a essa dúvida –, destacamos, esta semana, três questões:

i. Sobre a possibilidade de haver um complexo verbal com o verbo ter como auxiliar em construções como «Ele tinha-a fechada neste momento.»

A resposta, que pode ser lida neste artigo, defende que na frase «Ele tinha-a fechada neste momento», a estrutura «tinha-a fechada» não constitui um complexo verbal. Na verdade, trata-se do uso transitivo-predicativo do verbo ter, ao qual se associa um valor resultativo (ver Textos relacionados). A frase «ele tinha-a fechada neste momento» não é, portanto, sinónima de «ele tinha-a fechado neste momento».

 

ii. Sobre quanto como determinante interrogativo. A resposta pode ser lida neste linque e defende que, na frase «quantos lápis compraste em duas horas?», quantos é um determinante interrogativo.

 

iii. Sobre quantificadores e pronomes indefinidos.

O artigo, que se pode ler aqui, defende que «A diferença entre a classe dos pronomes, por um lado, e as dos determinantes e quantificadores, por outro, passa, entre outros aspetos, pelo facto de estes últimos incidirem sobre um nome. Os pronomes, por seu turno, surgem sozinhos na frase. No caso dos pronomes indefinidos, o facto de estes terem uma significação um pouco vaga leva à formação da subclasse dos indefinidos.»

 

 

 

No âmbito da intenção de alargamento da ação do Ciberdúvidas nas redes sociais, foi lançado, como os sócios da APP já sabem, O Ciberdúvidas Vai às Escolas.

Este novo projeto leva o Ciberdúvidas às escolas onde se ensina a língua portuguesa, em Portugal e no mundo. Aí, de forma presencial ou à distância, um consultor do Ciberdúvidas esclarece, ao vivo e em direto, as dúvidas que os alunos têm relacionadas com questões gramaticais.

Estas sessões são gravadas em formato vídeo e serão divulgadas, posteriormente, nas redes sociais do Ciberdúvidas, no formato de vários pequenos vídeos (ou reels), que dão a conhecer o esclarecimento dado a cada uma das dúvidas apresentadas, de modo a que outros alunos e professores possam ter acesso aos conhecimentos envolvidos, para esclarecer dúvidas ou sistematizar conhecimentos.
As escolas interessadas em participar neste projeto, recebendo o Ciberdúvidas presencialmente ou à distância, poderão contactar os responsáveis pelo projeto por correio eletrónico: ciberduvidas@iscte-iul.pt

Esta semana, destacamos o vídeo 41 com a resposta à dúvida colocada por um estudante da Escola Secundária Nossa Senhora da Hora, Porto:

Qual é a forma preferencial: «Os alunos fizeram um trabalho no qual têm créditos.» Ou «Os alunos fizeram um trabalho que tem créditos.»?

A resposta, dada pela consultora Carla Marques, pode ser consultada no vídeo disponível aqui e defende que as duas frases têm incluídas duas orações subordinadas relativas que não são iguais.

 

 

 

Mais informações e fonte da imagem aqui.