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Associação de Professores de Português – Boletim dos Sócios |14| novembro 2022
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A APP em projetos e atividades
|| No sábado, dia 5 de novembro, teve lugar uma ACD sobre “Literacia para a publicidade”, dinamizada por Susana Paiva e com a presença de 26 professores. A formação foi reconhecida por todos como de grande qualidade e com uma partilha de materiais muito bons, nomeadamente filmes de publicidade institucional sobre saúde mental e igualdade de género. Vários professores partilharam ainda outros recursos e o debate de ideias foi intenso e variado. Mais informações aqui e aqui.
|| O Prémio Emília Amor de Investigação em Didática do Português | APP – edição 2022, lançado em junho, dirige-se a sócios não doutorados e será atribuído anualmente com o objetivo de incentivar a investigação sobre a prática pedagógico-didática do Português. Os trabalhos concorrentes deverão ser enviados até 31 de dezembro para secretaria@app.pt – consulte o regulamento aqui. Participe e incentive os seus colegas a participar!
|| A revista Palavras, n.º 58-59, vai ser publicada, pela primeira vez em formato unicamente digital. Vamos manter o custo da assinatura anual (digital) nos atuais 15 euros, sendo de acesso exclusivo para sócios e assinantes. Em breve na sua caixa de correio!
|| A revista Palavras, n.º 60-61, será dedicada à oralidade e tem como editora convidada a linguista Carla Marques, doutorada em Língua Portuguesa (com uma dissertação na área do estudo do texto argumentativo oral), investigadora do CELGA-ILTEC (grupo de trabalho “Discurso Académico e Práticas Discursivas”), autora de manuais e de gramáticas escolares, formadora de professores, professora do ensino básico e secundário e consultora permanente do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa. A revista vai ser publicada no primeiro semestre de 2023.
|| O projeto de mentoria que a direção pretende lançar e a que já fizemos referência no Boletim de outubro visa responder ao desafio de desenvolver e melhorar o desempenho e o trabalho profissional dos professores, constituindo um sistema de apoio para o seu trabalho. O mentor é um ‘amigo crítico’ que está ao lado do(a) sócio(a) e o(a) ajuda em questões, necessidades e problemas específicos, estando preparado para ouvir, tomar conhecimento e ajudar a construir finalidades no decorrer da própria ação de reflexão conjunta. Para alargar a base de apoio a este projeto e podermos todos beneficiar da experiência de tantos professores que são nossos sócios, quer estejam no ativo ou já não, propomos que envie uma mensagem para secretaria@app.pt referindo que pretende ser contactado(a) pela direção para participar neste programa de voluntariado profissional. Mais informações em dezembro.
|| As Olimpíadas da Língua Portuguesa são um projeto iniciado na Direção-Geral da Educação (DGE), no ano letivo de 2012/2013, em parceria com o Agrupamento de Escolas Aurélia de Sousa e a Associação de Professores de Português (APP), tendo em vista incentivar o bom uso da língua portuguesa pelos alunos do 3.º ciclo do ensino básico e do ensino secundário. A partir de 2022/23, a APP passa a organizar estas Olimpíadas, em parceria com as mesmas entidades. Mais informações em breve.
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A APP esteve presente
|| Luís Filipe Redes e João Pedro Aido, presidente e vice-presidente da direção da APP, respetivamente, estiveram presentes, no dia 26 de outubro, na inauguração da exposição com que a Faculdade de Letras de Lisboa homenageou a professora Maria Helena Mira Mateus – e à qual a APP se associou desde a primeira hora.
|| João Pedro Aido deu uma entrevista à rádio Antena 1, no dia 2 de novembro, sobre os resultados das provas de aferição de 2022.
|| Luís Filipe Redes e João Pedro Aido tiveram uma reunião com outros 12 professores de 8 associações para discutirem o modelo de formação MOOC (massive open online course), no dia 4 de novembro. Principais conclusões aqui.
|| No mesmo dia 4 de novembro, Luís Filipe Redes e João Pedro Aido reuniram-se por videoconferência com Carlinda Leite, da Universidade do Porto e coordenadora de um grupo de trabalho sobre formação de professores e condições de acesso a mestrados em Ensino do Português. Principais conclusões neste linque.
|| No sábado, dia 5 de novembro, foi feita a apresentação pública do livro Pura Memória, de Emília Amor, na Biblioteca de Cascais – S. Domingos de Rana, com a presença da autora e de dezenas de amigos. A sessão, que terminou com o coro de que Emília Amor fazia parte a cantar duas canções, a segunda das quais “Traz outro amigo também”, contou com a apresentação feita por Raquel Henriques da Silva, professora catedrática jubilada de História da Arte e amiga pessoal da Emília, e foi afetuosamente brilhante nas puras memórias que todos quiseram partilhar. Terá sido, sem dúvida, um dia inesquecível para a Emília Amor, e para todos os seus muitos amigos.
|| João Pedro Aido deu uma entrevista ao programa Páginas de Português, da Antena 2, no domingo, dia 13 de novembro, sobre os resultados das provas de aferição de 2022 – apesar de ainda não estarem publicados nessa data os relatórios relativos às provas deste ano.
|| No dia 16 de novembro, o diário JN publicou um artigo sobre o centenário de Saramago, com a colaboração de João Pedro Aido, Luís Filipe Redes, Carmo Oliveira e vários especialistas na obra do autor de Ensaio sobre a cegueira.
|| João Pedro Aido falou com a jornalista Alexandra Barata, do diário JN, sobre os alunos que chegam ao nosso sistema educativo sem saberem português e as dificuldades das escolas em responderem às múltiplas dimensões deste problema. Esse trabalho, que ainda não foi publicado, contou com a colaboração da professora Ana Josefa Cardoso, de PLNM, que falou também com a jornalista para dar uma visão mais atualizada do trabalho das escolas.
|| João Pedro Aido esteve na comemoração dos 25 anos do GAVE/IAVE, no dia 21 de novembro. Breve síntese aqui.
|| Como referimos no Boletim de outubro, João Pedro Aido esteve presente, no dia 28 de setembro, numa reunião do conselho científico do IAVE. No contexto dessa reunião, o vice-presidente da direção referiu a necessidade de se valorizar o pluricentrismo da língua portuguesa, de modo a evitar que alguns dos nossos alunos fiquem prejudicados nas provas de avaliação externa. Houve recetividade do presidente do conselho diretivo, Luís Santos, para se criar um grupo de trabalho que integre a APP e várias associações e que possa estudar recomendações a fazer ao IAVE durante o ano letivo de 2022/23. Aguardamos a marcação dessa reunião.
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Centro de Formação Maria Helena Mira Mateus
|| O Centro de Formação recebe encomendas da oficina de formação O MELHOR DO MUNDO SÃO AS PALAVRAS? – OFICINA DE ESCRITA (CRIATIVA), enviadas por agrupamentos de escolas, escolas públicas e privadas e outras entidades ligadas à formação de professores. Consultar a informação completa aqui.
|| Dando continuidade à parceria da APP com a APEM (Associação Portuguesa de Educação Musical), em janeiro e fevereiro de 2023 realiza-se a ação de formação A MÚSICA DAS PALAVRAS: INTERDISCIPLINARIDADE EM PORTUGUÊS E MÚSICA (1.º e 2.º CEB), por encomenda do Projeto Mochila Leve da Câmara Municipal de Oeiras. Consultar a informação sobre a ação aqui.
|| O Centro de Formação tem recebido vários pedidos de formação no âmbito do Português Língua Não Materna (PLNM). Em resultado das restrições e alterações relativas à mobilidade de docentes para Centros de formação e Associações profissionais e científicas de professores, presentemente não nos é possível dar resposta a estes pedidos. Convidamos os sócios a proporem-se como formadores ou a indicarem-nos formadores, acreditados pelo CCPFC (Conselho Científico e Pedagógico da Formação Contínua), com disponibilidade para a realização de ações em PLNM e noutras áreas específicas do ensino e da aprendizagem de Português, nas modalidades de formação a distância (e-learning) e mista (b-learning).
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1.º ciclo
|| Neste número 14 do Boletim dos Sócios, iniciamos uma secção dedicada ao primeiro ciclo com a apresentação de produções na emergência da escrita e da leitura. Este trabalho terá continuidade nos próximos números do Boletim, exemplificando o que pode ser o trabalho sobre a leitura e a escrita e outros domínios do Português nos primeiros anos de escolaridade.
|| A apresentação de produções na emergência da escrita e da leitura pode ser lida nesta hiperligação.
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Tópico em destaque
Apresentação do livro Didática do Português. Sinais de um Percurso de Vida, de Emília Amor
|| A obra Didática do Português. Sinais de um Percurso de Vida, editada pela Fundação Manuel Leão com o apoio da APP, vai ser lançada na Biblioteca de Alcântara, em Lisboa, no dia 20 de dezembro, pelas 14 horas, e será apresentada pela Doutora Sónia Valente Rodrigues, Pró-Reitora da Universidade do Porto e Professora na Faculdade de Letras da mesma Universidade.
Na sessão de abertura, participarão a Comissária do Plano Nacional de Leitura, Regina Duarte, a Coordenadora da Biblioteca de Alcântara, Ana Santos, e o Presidente da Direção da APP, Luís Filipe Redes.
No final da apresentação do livro, há um encontro com a autora e uma sessão de autógrafos. Mais informações aqui.
|| No contexto da apresentação deste livro, recordamos aqui a entrevista a Emília Amor, professora, formadora e autora do projeto Littera, publicada no n.º 28, outono de 2005, da revista Palavras, e intitulada “Muitas aulas de Português estão transformadas em ateliês de tempos livres”. Uma reflexão absolutamente atual.
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Tópico em destaque
Desmaterialização das provas de avaliação externa (DAVE)
|| A avaliação externa das aprendizagens é um processo de grande importância pedagógica, curricular e social para o sistema educativo português, concorrendo para a regulação e aferição do desenvolvimento do currículo nas escolas e para a melhoria dos processos didáticos de ensino e de melhoria das aprendizagens.
É nestes termos que o IAVE começa por apresentar o processo da DAVE, cuja implementação começou em 2021/22 com a aplicação piloto de provas de aferição e continua, em 2022/23, com a generalização das provas de aferição em formato digital e com a aplicação piloto de provas finais do 3.º ciclo.
|| Estas e outras informações oficiais podem ser analisadas neste documento do IAVE.
|| Tal como referimos no Boletim de outubro, o conselho científico do IAVE pediu que cada associação apresentasse um conjunto de questões, dúvidas, preocupações e aspetos a ter em conta na desmaterialização das provas de avaliação externa. Nesse sentido, recolhemos a opinião dos sócios e elaborámos um documento que sintetiza essas e outras respostas e que pode ser consultado aqui.
|| Para aprofundar este importante processo, que tem múltiplas implicações no sistema educativo português, a direção da APP vai realizar, em janeiro de 2023, um debate em linha com a presença de especialistas do IAVE, incluindo o presidente do conselho diretivo, Luís Santos. Esteja atenta(o) às informações sobre a data e sobre as inscrições para essa importante sessão de esclarecimento.
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Tópico em destaque
XV Encontro Nacional da APP
|| A Associação de Professores de Português vai realizar o seu 15.º Encontro Nacional (15.º ENAPP), com o título Português em jogo e em projeto, nos dias 11 e 12 de abril de 2023, no Museu e Fundação do Oriente, em Lisboa, e simultaneamente a distância, através da plataforma Zoom.
|| O encontro, cuja acreditação aguarda deferimento pelo CCPFC, terá os seguintes subtemas:
“Literatura, artes e escrita em projeto”
“O jogo na aprendizagem da língua, da cultura e da literatura”
“Projetos interdisciplinares com [a disciplina de] Português”
“O homem lúdico hoje – o lugar dos jogos na educação”.
|| De facto, o jogo pode ser visto como uma situação codificada de interação social mas a sociedade contemporânea, marcada por uma massificada ‘ludificação’ do mundo, opõe jogo a seriedade e remete-o para situações ‘excecionais’: a infância, os jogadores profissionais e o tempo livre. No entanto, há um potencial ético, social, ecológico, didático e pedagógico que o jogo pode ter e que merece uma reflexão urgente ao nível das práticas escolares e da investigação, do trabalho colaborativo e da valorização da imagem da escola, no contexto de um mundo que coloca desafios novos e imprevisíveis a uma geração de alunos que devem construir e sedimentar uma cultura científica e artística de base humanista, como justamente se reconhece no Perfil dos Alunos (PASEO).
|| No contexto dos documentos curriculares de referência, nomeadamente as Aprendizagens Essenciais do Português e o PASEO, espera-se que este XV Encontro Nacional da APP seja uma oportunidade para professores, investigadores e especialistas proporem e discutirem caminhos e soluções didáticas sobre o papel do jogo e do trabalho de projeto na melhoria das aprendizagens em Português, nos ensinos básico e secundário, tendo em conta as implicações que o tempo de excecionalidade da vida escolar, criada pela situação pandémica que se tem vivido desde março de 2020, não deixou de ter nas aprendizagens dos alunos e na sua relação com a escola.
|| Neste momento, podemos já anunciar a confirmação da presença de três conferencistas, cujos trabalhos ligados à importância do jogo na educação das crianças, às artes e à interatividade no meio digital se cruzam, de forma complementar, com as várias dimensões dos subtemas do encontro e os vários domínios das aprendizagens essenciais de Português.
|| Carlos Neto é um dos maiores especialistas mundiais na área da brincadeira e do jogo e da sua importância para as crianças. Para este professor catedrático da Faculdade de Motricidade Humana (FMH) da Universidade de Lisboa (UL), brincar é um assunto muito sério. Por essa razão, o trabalho de investigação académica que tem vindo a desenvolver há quase cinco décadas centra-se sobretudo no papel que brincar e jogar têm no desenvolvimento da criança. Carlos Neto fará a conferência de abertura, no dia 11 de abril de 2023.
|| Patrícia Gouveia, professora associada da Faculdade de Belas-Artes da UL, curadora da exposição Playmode (MAAT, 11.9-19.12.2019), tem um vasto trabalho sobre experiências multimédia interativas, aprendizagem baseada em jogos, jogos digitais e saúde mental, multimédia e tecnologias interativas, os videojogos em Portugal, jogo e poesia, ou a compreensão da cultura dos videojogos, entre outros. Vários dos seus trabalhos, inclusive como curadora, mostram que há um potencial dos sistemas lúdicos para abordar problemas éticos, sociais, humanitários ou ecológicos. A conferência de Patrícia Gouveia inicia os trabalhos da tarde do dia 11 de abril.
|| Ana Albuquerque Aguilar, que dará uma conferência na abertura dos trabalhos do dia 12 de abril, é investigadora no Centro de Literatura Portuguesa da Universidade de Coimbra, bolseira da FCT, investigadora convidada da Universidade de Barcelona, doutoranda em “Educação literária na era digital: o contributo da literatura eletrónica”. É tradutora da versão portuguesa de Inanimate Alice, a primeira obra de literatura eletrónica a integrar o PNL.
|| Submissão de resumos
Os resumos deverão conter de 3000 a 5000 caracteres incluindo espaços. O texto deve sintetizar o conteúdo da comunicação. Se o trabalho a apresentar for empírico, deve conter a contextualização da temática, problema de investigação e pertinência do estudo, objetivos, síntese da metodologia adotada e dos principais resultados. Caso se trate da descrição de um projeto, a estrutura deve ser clara e seguir uma linha orientadora, considerando a contextualização da temática, objetivo, explicitação clara dos procedimentos do projeto e principais reflexões.
Palavras-chave: de 3 a 5 palavras separadas por ponto e vírgula (;)
Referências bibliográficas: No mínimo, três referências bibliográficas, de acordo com as normas APA 7.ª edição. Consultar exemplos de formatação.
Endereço de correio eletrónico para o envio de resumos: aprofport@app.pt
Título da mensagem: «15.º ENAPP – submissão de resumo».
Prazos:
Envio de resumos: 15 de janeiro de 2023
Avaliação das propostas pela Comissão Científica do encontro: 6 de fevereiro de 2023.
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Lugares virtuais
|| No centenário do nascimento de José Saramago, conheça aqui e aqui o programa das comemorações.
|| Alguns dos mais arrojados projetos de inovação pedagógica que procuram promover o sucesso dos alunos e combater o abandono escolar, no contexto de políticas de autonomia e de gestão local das escolas, podem ser analisados neste relatório, publicado na página da DGE. Em particular, o relatório analisa, entre outros fatores, (i) as medidas implementadas pelos agrupamentos de escola, relativas à matriz e gestão curricular, às opções pedagógico-didáticas, à avaliação das aprendizagens e organizativas; (ii) os resultados académicos alcançados e outros efeitos percebidos pelos atores; e, por fim, (iii) os fatores críticos de sucesso.
|| O canal do Youtube da Fundação D. Luís, em Cascais, permite aceder a múltiplas exposições – desde a Casa das Histórias Paula Rego à extraordinária fotógrafa norte-americana Vivian Dorothy Maier, entre outras –, a leituras ‘em voz alta’ dos nossos poetas, a arte pública e, em particular, a seminários permanentes de grandes obras da literatura universal, por reputados especialistas que nos ajudam a compreender melhor a razão pelas quais determinados textos conseguiram integrar o nosso tecido cultural comum.
É o caso, por exemplo, do seminário de António M. Feijó sobre o romance Ulisses, de James Joyce, ou Édipo Rei, de Sófocles, por Teresa Bartolomei, o Auto das Barcas, de Gil Vicente, por José Cardoso Bernardes, Hamlet, de Shakespeare, por Maria Sequeira Mendes, Os Lusíadas, de Camões, por João R. Figueiredo, Os Maias, de Eça, por Isabel Pires de Lima, entre muitas outras obras da literatura universal.
|| Um podcast por mês. Neste caso, As mulheres não existem – um podcast sobre mulheres para ouvintes de todos os géneros. A palavra às autoras Carla Quevedo e Matilde Torres Pereira: como persistem expectativas antiquadas e imerecidas sobre o papel das mulheres na sociedade, o podcast apresenta todas as semanas uma nova convidada para expor preconceitos e contrariar o título do próprio programa.
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Cânone Acidental
|| Excerto de O Evangelho Segundo Jesus Cristo, de José Saramago, que o ensaísta António M. Feijó considera, no artigo que escreveu para O Cânone, como “porventura a mais extraordinária ficção do autor, que alegoriza um dualismo gnóstico, próximo do de São Paulo, de Teixeira de Pascoaes, o único texto português que é seu par, na exposição do furor homicida de Deus-Pai e na apologia do impulso reparador do Filho” (Feijó, António M. (2020). José Saramago. In António M. Feijó, João R. Figueiredo, Miguel Tamen (Eds.), O Cânone (pp. 322-323). Fundação Cupertino de Miranda e Tinta da China.):
Deus inspirou profundamente, olhou em redor o nevoeiro e murmurou, no tom de quem acaba de fazer uma descoberta inesperada e curiosa, Não o tinha pensado, isto aqui é como estar no deserto. Virou os olhos para Jesus, fez uma longa pausa, e depois, como quem se resigna ao inevitável, começou, A insatisfação, meu filho, foi posta no coração dos homens pelo Deus que os criou, falo de mim, claro está, mas essa insatisfação, como todo o mais que os fez à minha imagem e semelhança, fui eu buscá-la aonde ela estava, ao meu próprio coração, e o tempo que desde então passou não a fez desvanecer, pelo contrário, posso dizer-te, até, que o mesmo tempo a tornou mais forte, mais urgente, mais exigente. Deus fez aqui uma breve pausa como para apreciar o efeito da introdução, depois prosseguiu, Desde há quatro mil e quatro anos que venho sendo deus dos judeus, gente de seu natural conflituosa e complicada, mas com quem, feito um balanço das nossas relações, não me tenho dado mal, uma vez que me tomam a sério e assim se irão manter até tão longe quanto a minha visão do futuro pode alcançar, Estás, portanto, satisfeito, disse Jesus, Estou e não estou, ou melhor, estaria se não fosse este inquieto coração meu que todos os dias me diz Sim senhor, bonito destino arranjaste, depois de quatro mil anos de trabalho e preocupações, que os sacrifícios nos altares, por muito abundantes e variados que sejam, jamais pagarão, continuas a ser o deus de um povo pequeníssimo que vive numa parte diminuta do mundo que criaste com tudo o que tem em cima, diz-me tu, meu filho, se eu posso viver satisfeito tendo esta, por assim dizer, vexatória evidência todos os dias diante dos meus olhos, Não criei nenhum mundo, não posso avaliar, disse Jesus, Pois é, não podes avaliar, mas ajudar, podes, Ajudar a quê, A alargar a minha influência, a ser deus de muito mais gente, Não percebo, Se cumprires bem o teu papel, isto é, o papel que te reservei no meu plano, estou certíssimo de que em pouco mais de meia dúzia de séculos, embora tendo de lutar, eu e tu, com muitas contrariedades, passarei de deus dos hebreus a deus dos que chamaremos católicos, à grega, E qual foi o papel que me destinaste no teu plano, O de mártir, meu filho, o de vítima, que é o que de melhor há para fazer espalhar uma crença e afervorar uma fé. As duas palavras, mártir, vítima, saíram da boca de Deus como se a língua que dentro tinha fosse de leite e mel, mas um súbito gelo arrepiou os membros de Jesus, tal qual se o nevoeiro se tivesse fechado sobre ele, ao mesmo tempo que o Diabo o olhava com uma expressão enigmática, misto de interesse científico e involuntária piedade. Disseste-me que me darias poder e glória, balbuciou Jesus, ainda tremendo de frio, E darei, e darei, mas lembra-te do nosso acordo, tê-los-ás, mas depois da tua morte, E de que me servem poder e glória, se estou morto, Bem, não estarás precisamente morto, no sentido absoluto da palavra, pois, sendo tu meu filho, estarás comigo, ou em mim, ainda não o tenho decidido em definitivo, Nesse sentido que dizes, que é não estar morto, É, por exemplo, veres, para todo o sempre, como te venerarão em templos e altares, ao ponto, posso adiantar-to desde já, de as pessoas no futuro se esquecerem um pouco do Deus inicial que sou, mas isso não tem importância, o muito pode ser partilhado, o pouco não o deve. Jesus olhou Pastor, viu-o sorrir, e compreendeu, Percebo agora por que está aqui o Diabo, se a tua autoridade vier a alargar-se a mais gente e a mais países, também o poder dele sobre os homens se alargará, pois os teus limites são os limites dele, nem um passo mais, nem um passo menos, Tens toda a razão, meu filho, alegro-me com a tua perspicácia, e a prova disso tem-la tu no facto, em que nunca se repara, de os demónios de uma religião não poderem ter qualquer acção noutra religião, como um deus, imaginando que tivesse entrado em confronto directo com outro deus, não o pode vencer nem por ele ser vencido, E a minha morte, será como, A um mártir convém-lhe uma morte dolorosa, e se possível infame, para que a atitude dos crentes se torne mais facilmente sensível, apaixonada, emotiva, Não estejas com rodeios, diz-me que morte será a minha, Dolorosa, infame, na cruz, Como meu pai, Teu pai sou eu, não te esqueças, Se ainda posso escolher um pai, escolho-o a ele, mesmo tendo sido ele, como foi, infame uma hora da sua vida, Foste escolhido, não podes escolher, Rompo o contrato, desligo-me de ti, quero viver como um homem qualquer, Palavras inúteis, meu filho, ainda não percebeste que estás em meu poder e que todos esses documentos selados a que chamamos acordo, pacto, tratado, contrato, aliança, figurando eu neles como parte, podiam levar uma só cláusula, com menos gasto de tinta e de papel, uma vez que prescrevesse sem floreados Tudo quanto a lei de Deus queira é obrigatório, as excepções também, ora, meu filho, sendo tu, de uma certa e notável maneira, uma excepção, acabas por ser tão obrigatório como o é a lei, e eu que a fiz, Mas com o poder que só tu tens, não seria muito mais fácil, e eticamente mais limpo, ires tu próprio à conquista desses países e dessa gente, Não pode ser, impede-o o pacto que há entre os deuses, esse, sim, inamovível, nunca interferir directamente nos conflitos, imaginas- me a mim numa praça pública, rodeado de gentis e pagãos, a tentar convencê-los de que o deus deles é uma fraude e que o verdadeiro deus sou eu, não são coisas que um deus faça a outro, além disso nenhum deus gosta que venham fazer na sua casa aquilo que seria incorrecto ir ele fazer à casa dos outros, Então, servis-vos dos homens, Sim, meu filho, o homem é pau para toda a colher, desde que nasce até que morre está sempre disposto a obedecer, mandam-no para ali, e ele vai, dizem que pare, e ele pára, ordenam-lhe que volte para trás, e ele recua, o homem, tanto na paz como na guerra, falando em termos gerais, é a melhor coisa que podia ter sucedido aos deuses, E o pau de que eu fui feito, sendo homem, para que colher vai servir, sendo teu filho, Serás a colher que eu mergulharei na humanidade para a retirar cheia dos homens que acreditarão no deus novo em que me vou tornar, Cheia de homens, para os devorares, Não precisa que eu o devore, quem a si mesmo se devorará.
Saramago, José (1991). O Evangelho Segundo Jesus Cristo (pp. 369-372). Editorial Caminho.
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