«Convenhamos que tudo isto é mais fácil de dizer do que de fazer. É por isso, aliás, que há investigação em didática das línguas. É por isso que importa estimular e ousar cruzamentos e percursos variados, múltiplos, diversos: do texto (literário ou não literário) para a explicitação do conhecimento gramatical, ou da explicitação e sistematização do conhecimento gramatical para a leitura e a interpretação, a educação literária, a produção oral e escrita. É por isso que uma equipa do grupo Gramática & Texto do Centro de Linguística da Universidade Nova de Lisboa – CLUNL está a desenvolver o projeto DiTo – Didática do Texto – na continuidade de investigações em didática das línguas, em particular na Universidade de Genève e na Universidade de Aveiro, mas também na perspetiva textocêntrica que defende Aguiar e Silva.
Podemos arriscar uma síntese: não vale a pena querer soluções simples para problemas complexos. Partilho inteiramente a preocupação de Bárbara Reis quando pergunta: “Quando estamos a caminhar para o fim da leitura, não seria de parar e pensar se a forma como ensinamos a língua portuguesa é a melhor?” Não creio, no entanto, que as respostas sejam tão fáceis ou evidentes como a solução que a autora propõe: “Para combater a queda da leitura, podíamos começar por reduzir as horas dedicadas ao ‘delírio taxonómico’, e usar esse tempo na escola a ler. A ler, simplesmente”. Entre o mero “delírio taxonómico” (a reduzir, sem dúvida) e o “ler, simplesmente” (que não sabemos exatamente o que possa ser, na realidade de cada estudante e de cada escola) há muitas possibilidades a explorar e a desenvolver. A questão não pode passar pela escolha entre ensino da gramática ou tempo para ler, ou tempo para ler e tempo para escrever (no tempo dos produtos fáceis que qualquer ferramenta de IA é capaz de oferecer), ou qualquer outra variação possível. Como disseram Prigogine e Stenghers, “o problema já não consiste hoje em reduzir a complexidade ou em evitá-la, mas em procurar os meios para a descrever”. E para lidar com ela, no campo específico da didática do português (ou da didática das línguas), acrescento eu. O horizonte não pode deixar de ser o da complexidade de uma didática integral.»
Antónia Coutinho (2025). Por uma didática integral. Público em linha, 3 de novembro de 2025.
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O projeto DiTo – Didática do Texto tem percursos didáticos para todos os ciclos do ensino, desde o 1.º ciclo ao ensino secundário. Consultar aqui.
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