Escritora do Mês. Itinerários de Pesquisa – Maria Natália Duarte Silva

Maria Natália Duarte Silva (1930-1971) Escreveu sobretudo poesia e publicou contos e artigos na imprensa periódica, tendo, igualmente, deixado correspondência e vários testemunhos. Ativista política integrada no movimento católico progressista, opôs-se à ditadura do Estado-Novo e lutou de um modo empenhado pela libertação dos presos políticos. Este Itinerário de pesquisa contou com a colaboração de Nathália Cioffi de Lima Possui graduação em Comunicação Social (Jornalismo) pela Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (2020). É mestre em Estudos Literários - área de concentração em Literatura Brasileira - pela Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais (2023). É doutoranda em Literatura de Língua Portuguesa na Universidade de Coimbra e bolsista da Fundação para Ciência e Tecnologia (FCT). Desenvolve pesquisa sobre poesia e religiosidade e dedica-se, sobretudo, à pesquisa da poesia brasileira e portuguesa do século XX. Pela equipa coordenadora  Conceição Pereira  Rute Navas

ESCRITORA DO MÊS DE NOVEMBRO

Itinerários de Pesquisa

 

Maria Natália Duarte Silva – Ribeirão Preto (Brasil), 1930 – Lisboa, 1971

 

VIDA E OBRA

Escreveu sobretudo poesia e publicou contos e artigos na imprensa periódica, tendo, igualmente, deixado correspondência e vários testemunhos. Ativista política integrada no movimento católico progressista, opôs-se à ditadura do Estado-Novo e lutou de um modo empenhado pela libertação dos presos políticos.

Deixou as seguintes palavras:

Cada pessoa traz em si uma vida, e cada vida contém uma dose determinada de Aventura.

Que a minha seja bem uma Aventura. Luto por isso. (Outubro de 1949)

 

 

Testemunho de Luísa Teotónio Pereira sobre a vida e obra da mãe, 50 anos após a sua morte | 22/04/2021

“Desejava que a sua vida fosse uma aventura e envolveu-se em dezenas de iniciativas de oposição à ditadura.” Ler mais aqui.

 

Outros e os mesmos apontamentos

Em Janeiro 2022, nas comemorações dos cem anos do nascimento de Nuno Teotónio Pereira (1922-2016), os três filhos e dois netos lançam um sítio referente à vida e obra do “arquitecto e activista”. Nesta biografia destacam-se três textos sobre a mãe, Maria Natália Duarte Silva, primeira mulher de Nuno Teotónio Pereira:

Casa com Maria Natália Ferreira Duarte Silva, em Lisboa (18 outubro)” (1951), aqui.

“Falecimento da sua mulher Natália e da quarta filha, Catarina, em Lisboa (23 abril)”, aqui.

Em resposta ao inquérito da Revista «O Tempo e o Modo» (1968) no número dedicado ao “Casamento” , aqui.

 

Ler nas páginas da revista

 

 

“A minha resposta será sobretudo baseada numa realidade pessoal, numa experiência vivida e em convicções próprias”. Saber mais aqui.

 

 

Em 2017,  Ideia,  revista de cultura libertária, publica vários textos dedicados à escritora, entre os quais dois contos inéditos de 1950.

 

Fim-de-semana [pp. 197-200]

Começou a descer a rua estreita e serpenteante até casa. O sol desaparecia palidamente nas nuvens, e que cansaço, santo Deus! A classe tinha estado barulhenta e distraída e não conseguira prender-lhe a atenção. Agora, a garotada ia também rua abaixo: os rapazes aos saltos, eles e as bolas; as raparigas, todas de braço dado, aos risinhos. – Boa tarde, senhora professora. (Uma carita redonda e travessa). – Adeus Celeste. E vê se aprendes melhor a leitura, ouviste? Tinha estado uma manhã de sábado tranquila e tépida. Mais uma semana de estudos e trabalhos que terminava e nesses dias era difícil, muito difícil, tê-los na mão. E a verdade é que eles estavam tão fartos como ela. Pois é. Que coisas aborrecidas ela tinha para lhes ensinar. Se ao menos pudesse ir com a classe para o campo e mostrar-lhe coisas bonitas. Mas cheios de campo estavam os seus alunos e lá era ela que teria de aprender. Aprender com os seus alunos. Filha da cidade, para ali a tinham mandado ensinar e seriam eles a levá-la pela mão, iniciando–a nos seus segredos e nos daquela terra. Uns e outros não se deixavam penetrar facilmente.

 – Senhora professora, quer atirar com a minha fisga? […]

 

Pausa [pp. 201-202]

Àquela hora o café estava vazio. Lá fora um inverno ameno e doce em que até a chuva era uma carícia. Mário sentou-se e chamou o criado. Os seus ombros descaíam de cansaço. – Um café e um brandy. Tirou o sobretudo e pô-lo nas costas da outra cadeira. Ali dentro estava quente e agradável. O criado trouxe o café e serviu o brandy.

– Um maço de cigarros Aviz, também. Despejou o açúcar na chávena e mexeu o café vagarosamente. Aquilo ajudava a pensar, e ele precisava de pôr as ideias em ordem. Uma voz surpresa ao seu lado:

 – Olá Mário. Por aqui?

 – Viva! Por que não? Silêncio. Ouvia-se o tilintar dos copos no bar e a conversa dos criados. Para lá da porta, as ruas molhadas e o feérico das luzes e dos anúncios a reflectirem no chão. Os ardinas gritavam os jornais a correr e deixavam-se cair pontas de cigarros. Tudo era húmido e incerto como febre. Em frente de Mário o outro brincava com o maço de cigarros.

– Dás-me um cigarro?

– Serve-te, homem. Mário deu-lhe lume e continuaram calados.

– Alguma novidade? – perguntou Mário.

 – O Cabral foi esta manhã. Levaram-no para Caxias. 

 

E um ensaio (com registo fotográfico) de Maria Braga & Maria Paiva:

 

“Contributo para a leitura da obra poética de Maria Natália Duarte Silva” [pp. 204-208]

Esta coletânea quase completa está organizada em quatro partes: Dispersos I, poemas considerados da juventude (seis datados de 1949 e vinte e quatro sem data); Mão Aberta, o único livro de poesia publicado em vida, em 1963; Nó ao Centro, conjunto já preparado pela própria para publicação; e Dispersos II, poemas da fase final da sua vida (são registadas somente duas datas nos últimos textos: Dez. 70 e 8/12/70). Não é nossa intenção apresentar um estudo exaustivo nem tão pouco uma análise pormenorizada da sua obra poética; esta leitura, entre as múltiplas possíveis, é uma tentativa de penetração, de desnudamento, de compreensão do “interior/centro” escondido, dos sentidos opacificados nas elipses, nas metáforas e nos paradoxos.[…]

 

O Essencial da Obra Poética

 

Publicado pela editora Afrontamento, o livro reúne o essencial da obra poética da escritora: inclui O Nó ao Centro, coletânea de poemas que a autora deixou para publicação, bem como os textos editados em 1963 sob o título Mão Aberta e ainda dois outros conjuntos de poemas dispersos, o primeiro escrito por volta de 1950 e o segundo nos finais dos anos 1960. Saber mais aqui.

 

 

Dual [1972], Sophia de Mello Breyner Andresen dedica um poema a Maria Natália Teotónio Pereira. Ler aqui. 

 

 

 


 

Esta rubrica faz parte do projeto Descobrir Escritoras em Português.
Dossiê Escritora do Mês | Consultar aqui.
Página dedicada a Isabel da Nóbrega | Consultar aqui.